CRÍTICA | 1ª Temporada | ‘Cobra Kai’ é uma das mais gratas surpresas de 2018

Leandro Stenlånd

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6 de maio de 2018

Por mais que queiramos esquecer de coisas do passado, a nostalgia mexe com nosso íntimo. Essa sensação de saudade, às vezes irreal, por momentos vividos no passado associada a um desejo sentimental de regresso, nunca foi meu forte. Por tempos vivi assistindo Tokusatsus (Jaspion, Changeman, Kamen Rider) sem que ao menos me importasse se era uma questão nostálgica ou não. Isso raramente acontece com minha pessoa quando o assunto se refere a Cinema. Mas o problema é que estão pegando os filmes e transformando-os em seriados e aí a coisa começa a ficar séria. Maquina Mortífera, O Exorcista e agora Karatê Kid estão ganhando shows nas mais diversas plataformas da mídia. Como então deixar as coisas no passado quando o presente promete que no futuro reaveremos esse passado em um novo formato?

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Bom, o fato é que, em 1984, nascia um filme que entraria para a história dos longa-metragens de artes marciais. Estamos falando de Karatê Kid, que gerou enorme sucesso nos cinemas e, na década de 80, foi um fenômeno tão grande que as academias de Karatê ficaram entupidas. Talvez não graças ao filme em si, mas pelos personagens carismáticos como Daniel Larusso e Nariyoshi Miyagi. Estes encantaram o público de forma transcendental. Até hoje recordados como lendas, carregam consigo a teoria de se fazer o bem mesmo tendo a luta como prática ensinada ainda regularmente nas academias.

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ALERTA DE SPOILER ABAIXO!!!

Agora, o Youtube Red dedicou parte do seu tempo em dar uma nova cara e reinventar o que conhecemos até hoje como Karatê Kid. E, para isso, retornam ao papel de Daniel Larusso e Johny Lawrance, respectivamente, Ralph Macchio e William Zabka, atores que estrelaram o primeiro longa da franquia. Isso é a parte mais legal da série. Não é uma reinvenção. Daniel Larusso, por ter seguido o rumo da bondade via senhor Miyagi, tem uma boa reputação. Vendedor de carros (uma das mais famosas concessionárias da localidade), tem uma família unida, uma bela filha (interpretada pela graciosa Mary Mouser) e que viverá o mesmo triângulo amoroso que o pai viveu outrora. Situada mais de 30 anos depois dos eventos do primeiro filme, a série mostrará Johnny Lawrence (William Zabka) em busca de redenção e reabrindo o infame dojo Cobra Kai. Com isso, ele trará de volta sua rivalidade com o bem sucedido Daniel (Macchio), que tenta manter a vida em equilíbrio sem a ajuda de seu mentor.

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Karatê Kid não é mais o mesmo. O foco todo da série é fazer com que o dojo Cobra Kai seja visto de uma forma diferente. Por esta razão, precisamos esquecer o que aprendemos e conhecemos sobre Pat Morita vivendo o senhor Miyagi e Ralph com seu Larusso. Agora, precisamos ver e entender o porquê de Johny Lawrance ter sido tão rebelde toda sua vida. Vida esta que era recheada de regalias quando mais jovem, agora está vivendo o pão que o Daniel Larusso amassou, tentando ganhar sobrevida nas ruas onde reside. É interessante entender o ódio descontado não somente em Daniel, mas também em outros ”perdedores” encontrados no seu caminho. Os papéis estão totalmente invertidos e isso é a melhor parte do seriado. Enquanto temos um Daniel bem sucedido, Johnny tentará reerguer o nome de Cobra Kai através de um bom menino chamado Miguel. Este tal garoto seria o aluno ideal para Larusso, só que acaba indo para o Cobra Kai, enquanto Johny tem um filho, totalmente rebelde, fazendo suas estripulias de jovem, fumando maconha, roubando aqui e ali e acaba sendo treinado por Daniel Larusso. Então, o garoto mau está treinando com o professor bondoso, enquanto o garoto bondoso está treinando com o professor badass. Toda essa inversão de valores acontece para dar um gás diferenciado e evitar que caiam na repetição que Jackie Chan se envolveu quando veio com uma ‘releitura’ do filme ao lado do filho de Will Smith.

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Outra forma de inversão de valores é a prática do cyberbullying e bullying, o principal incentivador dos alunos a se inscreverem na academia do Cobra Kai. É aí que vamos conhecendo melhor a história de Johny. O seriado mostra que ele sofreu bullying quando mais jovem e, por esta razão, o praticava com Larusso no intuito de descontar seu ódio em um bode expiatório, já que não poderia fazê-lo em seu padrasto que o maltratava. Então, não somente temos um seriado recheado de inversões de valores para que possamos entender o outro lado da história, mas também ver que, após já ter sua família totalmente estruturada, ao rever o passado com a presença de Johny em sua cidade, Daniel começa a agir como uma espécie de vilão, atormentando a vida de Johny, considerando que o pobre e problemático agora treina o bom e que deve tornar-se mal, enquanto o rico, treinará o maldoso e que, certamente será o futuro Daniel Sam. Por mais que pareça um balaio de gato, é tudo muito bem contado no decorrer da trama.

Há também flashbacks que mostram os bons e velhos tempos do filme, com Daniel ainda jovem, brincando com Ali no parque, sofrendo as implicações dos marmanjos badass e seu professor ensinando-o. Há ainda os flashes de Lawrence sofrendo com seu sensei, zoando com a galera, entre outras coisas típicas daquela juventude no longa.  Há também inúmeros quadros espalhados com os personagens que não contracenar como Pat Morita, falecido em 2005, dentre muitos outros. Aliás, parte dos ensinamentos de Miyagi são repassados para o filho de Johny, enquanto Lawrence, repassa o último golpe que Daniel usou para derrotá-lo a Miguel. As atuações são muito boas ao lado de um roteiro totalmente bem desenvolvido e, apesar do seriado possuir uma cara teen, a qualidade vem de justamente daí. Apesar da série reviver os atores e ícones dos longa-metragens com suas batalhas diárias, seus filhos e pupilos engendram de forma competente o alicerce de Cobra Kai. A intenção é justamente essa. Mostrar que Lawrence jamais quis ser vilão, apenas teve uma vida ruim, sem um pai, sem uma mãe para orientá-lo, o que acabou fazendo com que se tornasse essa pessoa. Não que ele seja ladrão ou ainda um badass nem nada disso. Apenas sem orientação desde garoto. Hoje sofre as consequências tanto de não ser um pai exemplar, de não ter desenvoltura para lidar com seus alunos, assim como não ser um bom funcionário na empresa que está trabalhando.

A trilha sonora é Rock’n Roll puro. Há uma cena onde Larusso e Lawrence contracenam juntos em um carro e cantam uma faixa de Reo Speedwagon chamada “Take It On The Run”. Há menções honrosas a Guns N’ Roses, e há muita pancadaria com Poison e sua belíssima faixa “Nothin’ But a Good Time”. Há ainda Airbourne com “Back In The Game”. Obviamente que todos estariam enganados se pensassem que existe apenas Rock n’ Roll na casa. Uma mentira seria dita. Um dos mais influentes artistas do século XX, tanto na música, na televisão, bem como no cinema, Dean Martin, está presente em Cobra Kai, cantando “Ain’t That a Kick in the Head”. A trilha sem voz é toda composta por Zach Robinson e Leo Birenberg, que regem uma bela orquestra vintage, relembrando bons tempos dos filmes da década de 80.

Para evitar maiores spoilers, Cobra Kai é sem sombra de dúvidas uma das mais gratas surpresas de 2018. É pesada sem deixar de ser leve, é autêntica sem deixar de ter como influência o passado. Certamente afomentará os mais old schools sem que a nova geração deixe de perceber que Karatê Kid mora e continuará morando em nossos corações, seja com a versão de 1984 ou com essa de 2018. Uma coisa é certa: o season finale é magnífico e mostrará que o passado pode ser revivido. Veja a série AQUI.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Hayden Schlossberg Jon Hurwitz Josh Heald
Elenco: Ralph Macchio, William Zabka, Alex Zuko, Ashton Leigh, Bo Mitchell, Xolo Maridueña
Roteiro: Josh Heald, Jon Hurwitz, Robert Mark Kamen, Hayden Schlossberg, Michael Jonathan Smith
Episódios: 30 minutos
Gêneros: Ação, comédia, drama

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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