Crítica de Filme: Ender’s Game – O Jogo do Exterminador

Pedro Lauria

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19 de dezembro de 2013

Em um determinado momento da minha vida, tive a oportunidade de fazer um curso de cinema em Nova York. Lembro que andava pelos sebos da cidade perambulando em busca de livros sobre roteiro e linguagem cinematográfica. Foi em uma dessas andanças que bati o olho em “How to Write Science Fiction and Fantasy” por apenas um dólar. Nunca havia ouvido falar do autor – Orson Scott Card, e nunca procurei saber mais sobre ele, mas aquele livrinho, desde então, sempre ocupou um lugar especial na minha prateleira. Qual então minha surpresa ao saber que um de seus romances estava sendo adaptado para o cinema e – mais – descobrir que ele havia causado uma grande polêmica nos EUA devido os seus pontos de vista extremamente conservadores?

Pois é… Porém, felizmente, os pontos de vista retrógrados de Card ficam longe da adaptação de Ender’s Game: O Jogo do Exterminador, restando apenas o seu vasto conhecimento de como escrever uma narrativa de ficção científica. O resultado é que Ender’s Game acaba superando outras ficções científicas badaladas desses ano como Elysium, Depois da Terra e até mesmo, o supervalorizado, Círculo de Fogo .

O filme adquire contornos épicos no seu clímax.

O filme adquire contornos épicos no seu clímax.

“No momento em que eu verdadeiramente conheço meu inimigo, bem o bastante para derrotá-lo, nesse exato momento, eu passo a amá-lo.” – Ender Wiggin

Ender’s Game – O Jogo do Exterminador conta a história da invasão da terra por uma raça de alienígenas insetóides. Para vencê-los, a humanidade resolveu utilizar crianças – comandando drones (como se fossem vídeo games de naves) – para tentar derrotá-los. Utilizando a intuição e a falta de medo que os jovens perdem quando se tornam adultos, crianças se transformam em violentos comandantes de guerra.

Sim, o conceito de “crianças” e “vídeo games” é incrivelmente mercadológica e difícil de engolir, mas funciona – principalmente pela decisão acertada do diretor de mostrar o menor número de adultos possíveis (e apenas mostrando-os em posições de autoridade) criando um clima de “escola” – que impede que fiquemos repetidamente questionando o porquê dos adultos não estarem na guerra.

O que nos leva a um ponto importante, uma vez que, inteiramente protagonizado por crianças, Ender’s Game se destaca ao trazer três dos maiores destaques mirins de Hollywood – Asa Butterfield (A Invenção de Hugo Cabret), Hailee Steinfeld (Bravura Indômita) e Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine). E se Abigail não é muito aproveitada, o mesmo não pode se falar de Asa que opta corajosamente por uma atuação mais fria e estoica, sem para isso ferir o nosso interesse pelo personagem, ou de Hailee, que faz um “pseudo par romântico” e chama atenção pela química imediata que cria com Asa, funcionando perfeitamente para o papel. Os outros personagens jovens, menos aprofundados, conseguem manter um bom nível de atuação e são essenciais para a qualidade da película.

A presença de poucos adultos é essencial para que aceitemos que crianças se portassem como combatentes.

A presença de poucos adultos é essencial para que aceitemos que crianças se portassem como combatentes.

Dos atores veteranos, destaque para Harrison Ford – que cria um personagem extremamente militarista com grandes tons de cinza, variando entre o pragmatismo cruel da guerra e o amor paternal para com Ender. Assim, o filme evita que Ford se torne um personagem unidimensional como foi o caso do Sargento Miles em Avatar. Ben Kingley também chama a atenção, com um misterioso personagem que brota no último terço da obra, mas que não tem muito tempo para se desenvolver.

Se utilizando de uma construção por etapas, a narrativa nos faz acompanhar toda a trajetória de Ender (Asa) pelas escolas militares, enquanto nos dá dicas sobre os traumas que o assombram. Tal escolha funciona muito bem, possibilitando que nos identifiquemos com o personagem enquanto crescemos juntos com ele. Assim, ficamos felizes frente a cada progresso em seus treinos, e observamos seu amadurecimento conforme decisões difíceis precisam ser tomadas.

Entretanto, é em um dos artifícios mais importantes para mostrar o amadurecimento do rapaz, que a narrativa bem estruturada de O Jogo do Exterminador comete o seu mais grave pecado: o game psicológico que Ender joga – e que tem grandes desdobramentos no decorrer do filme – é mal explicado e soa com uma trapaça recorrente de roteiro.

O filme tem um design visual único - que o distancia de outras obras de ficção científica.

O filme tem um design visual único – que o distancia de outras obras de ficção científica.

Ainda sim, há de se bater palmas para a interessantíssima identidade visual do filme (que em nenhum momento parece genérica) e pelo arrojo do diretor que aproveita a falta de gravidade em algumas cenas para brincar com a câmera (claro, nada que se compare a genialidade de Cuáron…) – principalmente quando consideramos que se trata de um filme para um público adolescente/jovem adulto.

Mesmo ocasionando em outro problema de estrutura, O Jogo do Exterminador surpreende ao fugir do final militarista e nacionalista, mas que deveria ser explorado com um pouco mais de calma. No final das contas, o saldo de O Jogo do Exterminador é bem positivo, trazendo um filme que foge da mediocridade técnica e narrativa dos filmes Hollywoodianos, sem trair sua natureza mercadológica.

Sendo assim, como quem não quer nada, Ender’s Game – O Jogo do Exterminador, sobrevive às suas falhas e se coloca como o melhor blockbuster do ano.

BEM NA FITA: Boas atuações dos jovens; Inventividade visual; Empolgante; Mensagem anti-militarista; Construção narrativa inteligente.

QUEIMOU O FILME: Problemas com alguns instrumentos narrativos que destoam da obra; Final desenvolvido de forma apressada.

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FICHA TÉCNICA:

Direção: Gavin Hood

Elenco: Asa Butterfly, Harrison Ford, Hailee Steinfeld, Abigail Breslin, Viola Davis e Ben Kingsley

Roteiro: Gavin Hood

Gênero: Ficção Científica/Aventura

País: EUA

Duração: 114 Minutos

Pedro Lauria

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