Crítica de Filme | Ídolo
Wilson Spiler
|5 de outubro de 2014
Segundo a sinopse de Ídolo, não há ninguém no mundo mais fã de Nilton Santos do que Thiago Alvim. Talvez sim, talvez não. Sentimento é algo que não se pode medir, mas, certamente, ele foi um dos que mais ajudaram o maior ídolo do alvinegro carioca.
Dividido entre crítico e torcedor, este que vos escreve assistiu a Ídolo, em sessão do Festival do Rio, com lembranças de um passado não tão distante. Foi meu falecido avô quem me fez virar botafoguense e era em Nílton Santos que eu carregava sua memória, visto que foram tantas – boas – histórias contadas sobre o maior lateral-esquerdo de todos os tempos. No dia 27 de novembro de 2013 foi um baque a notícia de sua morte. Era como se tivesse falecido um parente meu. Era como se tivesse falecido, pela segunda vez, meu próprio avô.
Não, nunca o vi jogar, já que tenho “apenas” 33 anos. No entanto, tive o privilégio de conhecê-lo. Quer dizer, de vê-lo de perto, mas era como se o conhecesse há tempos, dada a proximidade que tinha adquirido por conta das histórias e de sua semelhança com meu avô. Posso dizer, em meu único contato com este ser humano incrível, que a aura do ambiente mudou assim que ele adentrou o recinto de General Severiano para o lançamento da camisa retrô do Amarildo. Todos ficaram em silêncio. Era quase como se tivesse entrando uma santidade no local. E não deixava de ser.
Nada define melhor um adjetivo para Nílton Santos do que o nome do documentário Ídolo. O filme traz, em uma bela manhã de domingo, um encontro entre o citado Thiago Alvim (atual candidato à presidência do Botafogo e dono do Carioca da Gema) e o personagem principal na clínica onde um já debilitado Nílton estava internado com problemas de saúde desde 2007. Os dois partem juntos em uma viagem que acabou tornando-se o último encontro entre ele e sua esposa Célia.
O documentário não só traça a trajetória do craque bicampeão mundial no futebol, como também retrata seu lado humano ao longo de sua vida, seu trabalho com crianças carentes e sua luta contra o Alzheimer, desvendando a construção de um ídolo. O longa traz toda a simplicidade do ex-jogador e seu senso de justiça. A idolatria de Thiago e outros fãs é empolgante. É uma homenagem das mais emocionantes e o melhor de tudo: sem cair no piegas.
Com a sala cheia, era possível ver uma plateia tocada e sorrisos nos rostos ao fim da exibição. Nílton Santos, mesmo em seus últimos momentos, conseguiu trazer a mesma alegria que entregava nos campos. Um trabalho impecável de Ricardo Calvet, mesmo com alguns pequenos problemas na projeção (normalize das cores, algumas imagens com luz estourada e alguns cortes bruscos), já que o filme não foi finalizado a tempo para o Festival, mas completamente perdoáveis perto da grandiosidade do longa. A maneira como o ex-jogador foi retratado não foca apenas no botafoguense, tanto é que nomes como Zico e Júnior, eternos ídolos flamenguistas, aparecem dando seus depoimentos e reverenciando o mestre. Gente que remete a um tempo de glórias do futebol, onde, independente de paixão clubística, deveria ser apreciado por todos. Em paz. Além disso, o esporte também pode ser formador de caráter, uma característica que nunca faltou a Nílton. Ídolo.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Ricardo Calvet
Roteiro: Ricardo Calvet
Produção: Ricardo Calvet e Ricardo Macedo
Depoimentos: Nilton Santos, Zico, Junior, Evaristo de Macedo, Zagallo, Amarildo, Carlos Alberto Torres, Paulo “PVC” Coelho, Luis Mendes, João Havelange, Just Fontaine, Dino Sani, Mengálvio, Coutinho, Pepe, Gerson, Manduca, Sandra Moreyra
Fotografia: Ricardo Macedo
Montagem: Luiz Guimarães de Castro
Música: Pedro Igel
Gênero: Documentário
Estúdio: Remake Filmes