Crítica de Filme: “Jack – O Caçador de Gigantes”, por Cadu Barros

Colaboração

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28 de março de 2013

*** Crítica escrita pelo colaborador Cadu Barros ***

O versátil diretor Bryan Singer está de volta após cinco anos longe das telas dos cinemas. Seu último filme, o drama de guerra Operação Valquíria, foi lançado em 2008, depois da tentativa de retomar a mitologia do Homem de Aço em Superman Returns. Mas mesmo não tendo obtido o sucesso esperado em algumas produções, Singer até hoje não entregou um filme ruim, e seus maiores êxitos (os dois primeiros X-Men e o thriller policial Os Suspeitos) provam que o diretor é hábil em conduzir histórias empolgantes sem se esquecer do desenvolvimento de seus personagens. Por isso, não deixa de ser decepcionante sua incursão ao universo infantil em Jack – O Caçador de Gigantes, que apesar de novamente apresentar uma boa diversão, deixa de lado pela primeira vez a construção dos personagens.

Gigante

A aventura medieval, escrita por Christopher McQuarrie (parceiro habitual do diretor), Darren Lemke e Dan Studney, adapta o clássico conto de fadas João e o Pé de Feijão, escrito por Benjamin Tabart em 1807. O trio de roteiristas até consegue tornar um pouco mais complexa a história sobre um jovem fazendeiro que, após receber feijões mágicos de um estranho, descobre acidentalmente uma forma de chegar até um mundo escondido entre as nuvens e habitado por gigantes selvagens. Já no prólogo somos informados que, séculos atrás, tais criaturas entraram em guerra contra os humanos, liderados pelo rei, e acabaram sendo banidas. Os anos passam, mas os gigantes continuam vivos, e nutrem um imenso desejo de vingança contra a raça que os derrotou.

Neste início de projeção , porém, já pode ser observado um problema grave no roteiro: o modo como os humanos conseguem subjugar seres tão fortes e poderosos não é nem um pouco convincente. Isso porque o artefato utilizado para isso não possui um poder místico (apesar de emitir um inexplicável brilho “mágico”), e sim uma influência moral. Como, ao longo da projeção veremos que os gigantes não possuem qualquer traço de moralidade e honra, é totalmente contraditório que eles sejam derrotados por tais valores. Além disso, Singer comete um erro básico na construção da tensão ao revelar de cara os gigantes. Mesmo que o prólogo seja feito em uma animação estilizada, o visual das criaturas apresentadas nele é muito semelhante àquele que será visto no decorrer da trama. Assim, quando Jack tem seu primeiro encontro com uma delas, não sentimos o impacto esperado, transformando uma cena potencialmente surpreendente em um confronto nada vibrante.

Jack e princesa

Mas aí já estamos quase na metade do filme, após presenciarmos diálogos fracos e algumas atuações caricatas de um elenco que mescla atores experientes com jovens promessas. O protagonista, Nicholas Hoult (o Fera de X-Men – Primeira Classe), é uma delas. O inglês é o único que se sobressai entre os personagens humanos, entregando uma atuação com energia e carisma suficientes para carregar a narrativa. E é notável sua química com a novata Eleanor Tomlinson, que interpreta a princesa sequestrada pelos gigantes . Na verdade, o romance entre os dois é o ponto alto da direção de atores. Graças a uma evolução bem conduzida da relação, nós realmente acreditamos no casal, algo cada vez mais raro em produções do tipo.

Em contra-partida, os veteranos Stanley Tucci, Ian McShane e Ewan McGregor – o vilão, o rei e o comandante do exército, respectivamente – são desperdiçados em personagens incrivelmente rasos. Os dois primeiros abusam da caricatura, enquanto McGregor não tem muito o que fazer com o pior papel de sua carreira. Sendo assim, quem entrega a melhor performance é Bill Nighty. Através do processo de captura de movimentos, o experiente ator inglês confere ao traiçoeiro líder dos gigantes uma personalidade marcante, fazendo da criatura digital um dos grandes destaques da obra (algo que ele já fizera antes em Piratas do Caribe – O Baú da Morte). Ainda assim, seu personagem é sabotado pelo roteiro, que não se aprofunda nas motivações (nunca ficamos sabendo, por exemplo, a razão de sua obsessão pela princesa).

Ewan

Apesar de tantos problemas, Jack – O Caçador de Gigantes consegue entreter graças ao bom ritmo da narrativa e, claro, pelas eficientes cenas de ação. Os efeitos visuais são bem realizados, especialmente nas sequências envolvendo o pé de feijão, mas o 3D decepciona, limitando-se a dar alguns sustos no espectador. E se desta vez a trilha sonora de John Ottman é um tanto quanto burocrática (ao contrário dos interessantes trabalhos do compositor em X-Men 2 e Astro Boy), pelo menos a direção de arte e o figurino estão totalmente de acordo com o tom infantil e fantasioso da obra.

Assim, Bryan Singer consegue realizar uma passatempo divertido, mas longe de ser um grande filme. Há de se esperar, portanto, que ele esteja bem mais inspirado em sua nova empreitada – o aguardadíssimo novo filme dos mutantes da Marvel – e que seu interesse pelos personagens seja bem maior que pelos efeitos visuais. Afinal, já está na hora do diretor voltar a emplacar um grande sucesso.

BEM NA FITA: Visual e movimentação dos gigantes, bom ritmo da narrativa, casal com boa química.

QUEIMOU O FILME: Personagens mal desenvolvidos, atuações caricatas, furos enormes no roteiro.
FICHA TÉCNICA:
Nome: Jack – O Caçador de Gigantes (Jack – The Giant Slayer)
Diretor: Bryan Singer
Elenco: Nicholas Hoult, Stanley Tucci, Bill Nighy, John Kassir, Ewan McGregor, Ian McShane, Warwick Davis, Eddie Marsan, Eleanor Tomlinson, Ewen Bremner, Ben Daniels, Ralph Brown, Daniel Lapaine, Andrew Brooke, Angus Barnett, Lee Boardman, Sam Creed, Caroline Hayes, Santi Scinelli, Simon Lowe, Christian Wolf-La’Moy, Russell Balogh, David Frost, Hattie Gotobed, Chris Bowe, Danny Stewart, Christian Black, Mingus Johnston, Philip Harvey, Charli Janeway, Simon Steggall, Anthony Errington, Josh Wichard, Andy Joy, Charles Harris, Henry Monk
Produção: Neal H. Moritz, David Dobkin, Patrick McCormick
Roteiro: Christopher McQuarrie, Darren Lemke, Dan Studney
Fotografia: Newton Thomas Sigel
Trilha Sonora: John Ottman
Duração: 114 min.
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Aventura
Cor: Colorido
Distribuidora: Warner Bros.
Estúdio: New Line Cinema / Legendary Pictures / Bad Hat Harry Productions / Original Film / Warner Bros. Pictures
Classificação: 10 anos

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