Crítica de filme | Malala

Alyson Fonseca

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20 de novembro de 2015

Malalai de Maiwand, a maior heroína do Afeganistão, era filha de um pastor de Maiwand, pequena cidade de planícies empoeiradas a oeste de Kandahar. Quando tinha dezessete anos, seu pai e seu noivo se juntaram às forças que lutavam para pôr fim à ocupação britânica. Malalai foi para o campo de batalha com outras mulheres da aldeia, para cuidar dos feridos e levar-lhes água. Então viu que os afegãos estavam perdendo a luta e, quando o porta-bandeira caiu, ergueu no ar seu véu branco e marchou no campo e diante das tropas, cantou: “Jovem amor! Se você não perecer na batalha de Maiwand, então, por Deus, alguém o está poupando como sinal de vergonha.” Naquele momento um dos principais porta-bandeiras foi atingido e morto por um soldado britânico e morreu, mas Malalai foi para a frente e ergueu aquela bandeira. Em seguida, também abatida por uma bala, Malalai foi morta. 

Malalai foi morta pelos britânicos, mas suas palavras e sua coragem inspiraram os homens a virar a batalha. Eles destruíram uma brigada inteira — uma das piores derrotas da história do Exército britânico. Os afegãos construíram no centro de Cabul um monumento à vitória de Maiwand. Malalai é considerada a Joana d’Arc dos pachtuns. Em homenagem a esta grande guerreira, que Ziauddin, batizou sua filha como Malala.

Em 2012, a história da paquistanesa que foi alvo do Talibã e ferida gravemente por disparo de arma de fogo quando voltava para casa no ônibus escolar no Vale do Swat, no Paquistão.  A então menina de 15 anos (ela completou 18 em julho passado) foi escolhida, juntamente com o pai, por defender a educação das meninas e o ataque a ela provocou protestos de apoiadores em todo o mundo. Ela sobreviveu milagrosamente e é agora uma importante ativista pela educação das meninas globalmente.

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© 2015 Twentieth Century Fox Film Corporation

Malala Yousafzai se tornou manchete ao redor do mundo. A jovem que dava entrevistas e defendia “de rosto limpo” o direito das meninas de frequentarem a escola foi vítima da crueldade Talibã em um ônibus escolar. O que poderia ter sido o fim de sua jornada foi o começo de algo muito maior. Malala sobreviveu, tornou-se uma ativista com influência mundial e, atualmente é a vencedora mais jovem de um Prêmio Nobel da Paz. Essa história real fantástica rendeu um livro Eu Sou Malala – A história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã (Companhia das Letras, 360 páginas, R$ 34,50). Essa história real e fantástica é o tema do documentário Malala, que estreia em algumas praças dos cinemas brasileiros.

O documentário é dirigido pelo vencedor do Oscar® Davis Guggenheim (Uma verdade inconveniente), o filme cumpre em fazer um retrato sensível de uma jovem garota que se tornou um dos maiores símbolos na luta pela democratização do acesso à educação. As filmagens foram feitas em 18 meses e mostram Malala tentando conciliar sua vida como uma adolescente normal e ainda estudante, com viagens pelo mundo para palestras em locais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e visitas em escolas.

O documentário coloca um olhar sobre os eventos que aconteceram com Malala Yousafzai, uma jovem paquistanesa atacada pelo Talibã por falar sobre a educação das mulheres e suas consequências, incluindo seu discurso na ONU.

Para milhões, ela é uma figura mundial transformadora e fonte de inspiração. Entre os extremistas, ela vem sendo perseguida como uma ameaça e um alvo. No retrato liberador de Davis Guggenheim, Malala, vê-se a adolescente nascida no Paquistão e mais jovem ganhadora do prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, como uma jovem muito real, uma adolescente sucessivamente corajosa, compassiva, ameaçada e que ama se divertir e simplesmente insiste no direito de viver e aprender, para todos.

HE NAMED ME MALALA: Malala Yousafzai at the United Nations General Assembly in New York City. July 12, 2013. Photo courtesy of Fox Searchlight Pictures.© 2015 Twentieth Century Fox Film Corporation All Rights Reserved

© 2015 Twentieth Century Fox Film Corporation

Rodado durante os 18 meses intensos que Guggenheim passou com toda a família Yousafzai no Reino Unido e viajando por Nigéria, Quênia, Abu Dabi e Jordânia, o filme é uma oportunidade profunda de conhecer Malala, o pai Ziauddin, a mãe Toor Pekai e os irmãos Khushal e Atal que ajudaram a forjar a jovem mulher em que ela está se tornando.  Esta é a história por trás da cultura e infância encantada de Malala: a história por trás de uma família que disse não à tirania e a consequência invisível de um evento abalador que transformou uma escolar ousada numa ativista educacional conhecida em todo o mundo.

Apesar de toda a sensibilidade prevista no roteiro, o filme ganha um ponto negativo, por não mostrar uma Malala sensível, que emocione. O documentário não consegue mostrar as emoções mais profundas de sua protagonista, aquelas emoções que farão os espectadores saírem da sala de exibição chorando. Em alguma parte do filme Guggenheim, questiona Malala sobre seus sofrimentos, mas sem sucesso, ela apenas se recusa a falar no assunto, de maneira educada. Faltando ao espectador aquela vontade de chorar durando a exibição.

Malala é um excelente material para ser apresentado nas Escolas de todo o mundo, principalmente, recomenda-se o filme para aqueles defensores e ativistas que lutam por educação de qualidade, igualdade de gênero e feministas. Com certeza, todos sairão apaixonados pela história de vida e de luta desta guerreira pela democratização do acesso à educação, afinal, segundo a própria Malala Yousafzai: “Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.”

TRAILER:

PÔSTER: 

MALALA (1)

FICHA TÉCNICA:
Título Original: He Named Me Malala
Gênero: Documentário
Direção: Davis Guggenheim
Roteiro: Davis Guggenheim
Elenco: Malala Yousafzai, Ziauddin Yousafzai, Toor Pekai Yousafzai, Khushal Khan Yousafzai, Atal Khan Yousafzai
Duração: 87 min.
Ano: 2015
Cor: Colorido
Estreia: 19/11/2015 (Brasil)
Distribuidor: Fox Filme do Brasil
Acesse o site oficial, clicando aqui.

Alyson Fonseca

Crítico Cultural e Correspondente do Blah Cultural em Recife / Pernambuco.
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