Crítica de Filme: Ninfomaníaca – Volume I

Bernardo Moura

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9 de janeiro de 2014

Um dos mais falados filmes de 2013 e talvez uns dos mais aguardados pelo público, Ninfomaníaca – Volume I chega às salas de cinema de algumas cidades brasileiras logo no começo do ano que vem. Por sua versão final possuir cinco horas de duração, Ninfomaníaca foi dividido em duas partes. A primeira, com quase duas horas de duração, estreará na Dinamarca, no dia 25 de dezembro, e depois no mundo todo, no começo de 2014. Já a segunda e maior parte, ainda não tem data confirmada. Mas, tudo indica que seja lançada em março próximo. Na manhã desta segunda, 23, o BLAH assistiu à primeira parte numa sessão especial para a imprensa carioca.

O diretor Lars von Trier utiliza um de seus recursos que já virou sua marca na direção: dividir a história a ser contada em capítulos e com uma pegada teatral. Assim como ele fez em “Dogville” (2005) e “Melancholia” (2011), Lars narra a vida sexual de Joe (Charlotte Gainsbourg) desde quando era pequena até sua meia-idade. Nesta primeira parte, temos Joe se desenvolvendo até a casa dos 20 e poucos anos em 5 capítulos.

>>> Confira a crítica de Ninfomaníaca – Volume II

Estirada e machucada num beco frio, onde ninguém se sabe como (e quando) foi parar lá, a mulher na fase adulta Joe é socorrida pelo velho e aparentemente bondoso, Seligman (Stellan Skarsgard), que a leva para sua casa em troca de uma xícara de chá com leite quente. A mulher se sentindo bem tratada, começa a contar a sua história ao seu cuidador. Logo, ela assume o papel de narradora e vai definindo os capítulos em assuntos de sua própria vida. O diálogo entre os dois personagens são bem sustentados. Assim, fica parecendo que há uma terceira pessoa presente ali naquele quarto sujo e quente: o espectador.

Com minutos de conversa, vemos o que aqueles dois estranhos têm em comum: o ato de pescar. Um metaforicamente e o outro, literalmente. O primeiro capítulo mostra como a mulher desenvolve sua ninfomania até o ponto de caçar homens para transar. Mas, veja bem: o filme aí utiliza um perfil que não fica melódico demais e nem enchendo linguiça.  A praticidade aqui impera. Afinal, o alvo da história não é contar como ela começou. Um bom exemplo deste trecho do filme é quando Joe, então adolescente, pede a Jerôme (Shia LaBeouf), um garoto bonito de sua vizinhança, para tirar sua virgindade, e ele a tira em 8 estocadas. Simples assim. (“Você pode tirar minha virgindade? Então, vamos lá”). Como algumas mulheres ficam traumatizadas com a primeira vez, Joe também o fica. O somatório de 3 + 5 desperta um terror nela, fazendo com que ela transe novamente tempos depois, graças à uma disputa com sua amiga B (Sophie Kennedy Clark). Da garotinha que brincava de sapinho para testar a energia cinética no chão do banheiro de casa, agora disputa com outro sapinho para quem é capaz de transar com mais homens num banheiro de um trem, visando um saco de chocolates como prêmio.

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A partir daí, ela vai desenvolvendo a arte de transar com variados tipos de homem. Se ela recebesse dinheiro por cada transa, ela seria chamada de prostituta. Coisa que não é. Aliás, Joe é bem diferente. Joe é uma mulher que aprendeu a fazer sexo (repita aí umas 20 vezes o “fazer”) e numa falta de reconhecimento de si própria, gosta disso. No auge do filme, ela transa com 8 caras na mesma noite em seu apartemnto e não recebe nada por isso. Aliás, o que ela recebe, além de orgasmos, são mimos dos homens mais “VIPs” (digamos assim), que lhe enchem de presentes.

Antes que surjam más interpretações, Nymphomaniac (no título original) não é um vídeo das Brasileirinhas ou qualquer coisa similar que vemos no Pornotube. Von Trier deixa bem claro para nós que ele quer mostrar como se trata a mentalidade de uma garota que gosta muito de sexo. O engraçado é que ele ajuda-nos muito aí, pois, uma grande parte da sociedade já pensou ou pensa em alguma vez na vida como seria a vida de uma garota “pervertida” (lembre-se também dos fetiches entre 4 paredes de qualquer casal).

Falando em estruturas do filme, o diretor utiliza os recursos mais didáticos para mostrar a vida desta pessoa.  Gráficos, desenhos, cálculos, palavras-chave e por aí vai são usados em larga escala entre uma trepada e outra. A impressão que dá é que estamos num laboratório de ciências aprendendo umas aulas de anatomia. Cito aqui uma vantagem do filme: vi muitos pênis e um par de xoxotas, e em nenhum momento me senti desconfortável com a imagem que estava vendo. Muito pelo contrário. Por me sentir numa sala de aula, as chupadas e gozadas e gemidos não me fizeram também querer mergulhar na tela para participar. Fizeram-me ser apenas o observador da cena, mais como um voyeur (os fetichistas piram!).

Outra bola dentro do diretor (já que estamos falando de sexo, por quê não usar esta expressão?!) é o uso de situações engraçadas sem virar comédia babaca. Pelo assunto ser considerado para muitos ainda um tabu, Trier usa de situações engraçadas na vida de Joe APESAR DE ELE ESTAR FALANDO UM ASSUNTO SÉRIO. Prepare-se para se divertir com algumas cenas.

Como Quentin Tarantino fez no ano passado com seu “Django Livre” (2012), Lars ousou também na trilha sonora. Ele coloca uma banda de metal com pegada mais industrial alemã chamada Rammstein para fazer parte do filme. Para quem curte metal, certamente já ouviu o som destes caras. Os momentos que a música toca se encaixam perfeitamente no teor da história. Sem contar que há ainda Bach e clássicos dos anos 70.

ninfo02Nas atuações, Charlotte, Shia e Stellan já são conhecidos do grande público e estão bem em seus papéis. Mas o destaque quase todo vai para a novata Stacy Martin, que interpreta Joe quando jovem/mulher. Stacy começou sua carreira cinematográfica neste ano. A outra parte do destaque fica para a veterana Uma Thurman. A atriz fica em cena alguns minutos, no máximo 20, mas, já é o bastante para abrilhantar ainda mais o longa, tendo um capítulo da história de Joe totalmente dedicado para ela, o terceiro, Sra H. Sra H é uma mulher que possui três filhos e é deixada pelo marido, que a troca por Joe. Só que o problema é que Joe não está apaixonada pelo Sr H. Ela apenas o tem como parceiro de sexo. Não rola amor e nem paixão entre estes dois. Mas a Sra H acha que rola e faz um escândalo grosseiro e inovador na casa de Joe na frente de suas três crianças. Ela é tão incrível que uma das melhores falas do longa é de sua personagem (“Crianças, venham conhecer a cama de prostituição”).

Portanto, esta primeira parte do polêmico longa foi mais como um doce grátis na boca de criança. Outra coisa a ser notada é que não sei qual a magia ou o feitiço utilizados por Lars, mas o filme passa tão rápido, que quando sobe as letrinhas, você se pergunta: “Ué, acabou?”. Por mim, ficaria na poltrona sentado por mais 3 horas tranquilamente. Usando o ditado popular, Ninfomaníaca – Volume I foi apenas tiro e bomba. Porque, ao que parece, no segundo volume vem a porrada e o bicho vai pegar.

BEM NA FITA:  As atuações de Stacy Martin e Uma Thurman, a trilha sonora, as cenas de sexo muito bem feitas.

QUEIMOU O FILME: Nada.

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FICHA TÉCNICA:

Direção: Lars von Trier

Elenco: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Stacy Martin, Shia LaBoeuf, Christian Slater, Uma Thurman, Jamie Bell, Willem Dafoe, Sophie Kennedy Clark

Roteiro: Lars von Trier

Produção: Zentropa Entertainments

Distribuidor brasileiro: Califórnia Filmes

Gênero: Erótico/ Drama

Países: Dinamarca, Alemanha, França, Bélgica

Duração: 110 minutos

Ano: 2013

Bernardo Moura

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