Crítica de Filme: O Grande Mestre

Pedro Lauria

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17 de abril de 2014

Autoralidade.

Noção que começou a ganhar destaque durante o renascimento, quando figuras como Da Vinci e Michelangelo, passaram a mostrar que não eram apenas trabalhadores braçais – mas, autores que emprestavam seu talento (sob pagamento) para criar verdadeiras obras de arte.

Wong Kar Wai, diretor do belíssimo Amor à Flor da Pele, é um verdadeiro autor, no que diz ao seu olhar refinado para criar maravilhosas composições. Aqui não é diferente. Aliás, O Grande Mestre é possível o filme mais belo do diretor.

No épico de artes marciais O Grande Mestre, Wong Kar Wai, se aproveita de todas as possibilidades de coreografia permitidas por um filme de artes marciais para criar mise-en-scenes magníficas. Uma verdadeira aula de movimentação em uma época em que diretores sofrem para conseguir montar combates com uma geografia de cena clara. Em O Grande Mestre, o respeito pela composição estética é tamanho, que mais que compreender e visualizar o combate, nós ficamos hipnotizados pela beleza dos movimentos e das situações.

Seja uma pontinha do pé que dá o equilíbrio para um lutador, ou a gota de água que cai no chapéu do protagonista, nem os menores movimentos capturados em poderosos planos detalhes são esquecidos pela sensível câmera de Wong War Kai.

O filme se utiliza de belíssimas composições e fotografia para criar quadros esplendorosos.

O filme se utiliza de belíssimas composições e fotografia para criar quadros esplendorosos.

Falando em esquecer, será que eu esqueci de alguma coisa? Talvez de explicar sobre o que se trata o filme e qual é a sua linha narrativa?

Pois, é. O mesmo erro é cometido por Wong War Kai em O Grande Mestre. Ao se preocupar em criar uma epopeia visual, na qual é extremamente bem sucedido, o diretor acaba por deixar de lado uma narrativa épica que conta a história do lendário Ip Man, mestre marcial de Bruce Lee. Ou pelo menos deveria contar.

Em meio a uma direção de arte e fotografia extraordinária (merecidamente indicadas ao Oscar), O Grande Mestre, parece perdido em sua própria obrigação narrativa de contar uma história. Deixando de lado tanto a vida de seu protagonista, quanto do panorama da China pré e pós 2ª Guerra Mundial, o filme opta por seguir a trajetória de Gong Er, a filha de um grande artista marcial que precisa se decidir entre vingar ou honrar o legado de seu pai, deixando Ip Man como uma estóica referência.

Os fãs de arte marcial ficarão satisfeitos com a beleza e dinamismo dos combatentes. Apesar disso, eles não são tão abundantes quanto outros filmes do gênero.

Os fãs de arte marcial ficarão satisfeitos com a beleza e dinamismo dos combatentes. Apesar disso, eles não são tão abundantes quanto outros filmes do gênero.

Transformar o protagonista em um apenas um guia pelo universo ao qual somos apresentados não é, de forma alguma, uma estratégia necessariamente ruim. Obras como Apocalypse Now já demonstraram a eficiência dessa escolha narrativa. Porém, quando optar por esse caminho faz com que deixemos de nos importar com trágicos eventos na vida de um personagem… é sinal que algo está errado.

Com um roteiro sem foco, e que se baseia em complicadas elipses para contar uma narrativa relativamente simples, recai na montagem o trabalho árduo de colar diversas situações para contar uma história coerente. Porém, tal feitio não é alcançado, restando ao pior artifício que um filme pode se utilizar para tentar contar uma história: cartelas explicativas, contando verbalmente tudo aquilo que o roteiro não conseguiu incluir e que era vital a narrativa.

Belíssimo, porém com uma estrutura narrativa que mais parecem “mosaicos mal encaixados”, O Grande Mestre acaba se tornando exemplo de como um artista pode se sobrepor a outro. Wong War Kai, mais preocupado em criar seu esplendoroso universo visual, acabou por não dar atenção a Ip Man, um talentoso artista marcial que mais parece fazer uma ponta de luxo em um filme sobre sua própria vida.

Ps. Esperem as cenas pós-créditos. É um amigo… Não é só a Marvel que está se utilizando desse recurso.

BEM NA FITA: Ótimo trabalho de Direção de Arte e Fotografia; Composições e mise-en-scenes belíssimos; Cenas de combate são um deleite visual

QUEIMOU O FILME: Roteiro problemático; Montagem afetada pela falta de foco; Apelação para recursos narrativos pedantes, tais como as cartelas explicativas

Confira o trailer:

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FICHA TÉCNICA:

O Grande Mestre (Yi dai zong shi)
Gênero: Épico/Artes Marciais
Direção: Wong Kar Wai
Roteiro: Wong Kar Wai, Jingzhi Zou e Haofeng Xu
Elenco: Tony Chiu Way Leung, Cung Le e Ziyi Zhang
Fotografia: Phillipe Le Sourd
Duração: 122 min
Ano: 2013
País: China

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
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