Crítica de filme: “Os Croods”, por Cadu Barros

Colaboração

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21 de março de 2013

*** Crítica escrita pelo colaborador Cadu Barros ***

Eep: rumo ao desconhecido

Eep: Platão para crianças

Está acontecendo um fenômeno interessante em Hollywood. A Pixar, que sempre foi sinônimo de ótimos filmes de animação (Toy Story, Procurando Nemo, Ratatouille e Wall-E), de repente começou a realizar caça-níqueis de qualidade duvidosa (o fraco Carros 2 e a grande decepção Valente). Em contra-partida, a Dreamworks, que sempre viveu à sombra do estúdio de John Lasseter, alternando animações divertidas (Shrek, Kung Fu Panda) com verdadeiras bobagens (Madagascar, Shrek 3), vem apresentando nos últimos anos obras criativas e comoventes (Como Treinar Seu Dragão, A Origem dos Guardiões), alcançando o mesmo nível de excelência que a concorrente costumava apresentar. Os Croods vem então para consolidar este cenário. Trata-se não só de um filme bastante divertido como também emocionante e capaz até mesmo de levantar questões filosóficas (e não nos esqueçamos de que ele é destinado, principalmente, ao público infantil).

Já nos primeiros instantes, somos introduzidos à Idade da Pedra através de um fantástico monólogo que utiliza as pinturas das cavernas como elementos narrativos, que criam vida e explicam o porquê da adolescente Eep viver isolada do mundo com sua família, composta pelo patriarca superprotetor Grug, a mãe submissa Ugga, o menino palerma Thunk, a criança hiperativa Sandy e a avó gagá. Todos eles temem o mundo exterior, e passam a maior parte do tempo enclausurados em uma caverna, exceto quando precisam caçar para conseguir comida. Acontece que Eep não se contenta em ficar sob os cuidados do pai. Ela deseja tornar-se livre para fazer suas próprias escolhas, e conhecer o novo, que é visto por Grug como algo essencialmente ruim. Assim, quando por uma fresta na caverna ela avista sombras estranhas durante a noite, decide então ignorar todas as regras de sobrevivência e partir para aventura (o que remete diretamente ao mito da Caverna de Platão, uma metáfora sobre a necessidade do ser humano de adquirir conhecimento para então poder vencer sua ignorância sobre o mundo).

O bicho de estimação de Guy não se chama Belt à toa

O bicho de estimação de Guy não se chama Belt à toa

Neste sentido, Os Croods é tudo o que Valente deveria ter sido. Ambas as obras apresentam personagens femininas fortes e determinadas a quebrar as regras impostas. Mas enquanto o filme da Pixar investe em uma trama tola e sem qualquer traço de originalidade (lembram-se de Irmão Urso?), a animação realizada pela Dreamworks e distribuída pela Fox Films apresenta uma estrutura narrativa simples, porém explorada de maneira brilhante. Após ter sua caverna destruída, a família é obrigada a acompanhar o jovem e destemido Guy, que ao contrário de Grug, acredita que a única chance deles sobreviverem é seguir rumo ao desconhecido . E é aí que está o grande mérito dos diretores e roteiristas Chris Sanders e Kirk DeMicco. O que poderia ser uma aventura vazia em que as peripécias dos heróis tomariam todo o tempo da projeção, torna-se uma jornada de amadurecimento e auto-conhecimento. A força motriz do filme é o desenvolvimento e a interação entre os personagens, fazendo com que nos apaixonemos por essa encantadora família (que, por sinal, poderia ser a de qualquer um de nós). Somam-se ainda os adoráveis bichos de estimação (a preguiça Belt e o cão Douglas), responsáveis por algumas das mais engraçadas cenas do longa.

E humor é o que não falta a Os Croods. E o melhor: é um humor deliciosamente inocente, assim como os personagens o são. Como é bom presenciar isso em uma época em que até mesmo filmes para crianças apelam para piadas de conotação sexual. Mas isso não quer dizer também que seja um filme apenas indicado ao público infantil. Muito pelo contrário. Poucas vezes vi adultos dando tantas gargalhadas em uma animação. Há sacadas inspiradíssimas que somente são percebidas pelos mais grandinhos, como, por exemplo, a primeira vez em que as mulheres da família calçam botas.

Croods: Amor em família

Croods: Amor em família

E se o roteiro é excelente, os aspectos técnicos não ficam atrás. Contando com um design de produção incrível, Os Croods apresenta um mundo exótico, com fauna e flora comparáveis até mesmo às vistas em Avatar. Além disso, a movimentação selvagem dos personagens é extremamente eficiente, mesmo nos pequenos gestos. Para completar, o 3D é um dos melhores já vistos, provocando uma perfeita imersão do público e enriquecendo ainda mais a experiência.

Mesmo que tenha algumas situações forçadas no clímax, Os Croods cumpre exemplarmente sua missão, fazendo com que o expectador saia da sala de cinema com um largo sorriso e algumas lágrimas no rosto. Algo que a DreamWorks tem se especializado em fazer. E quanto à Pixar, vamos torcer para que Universidade Monstros não seja mais uma decepção. Afinal, agora é ela quem tem que correr atrás da concorrência…

BEM NA FITA: Desenvolvimento dos personagens, momentos hilários, levantamento de questões filosóficas, excelência técnica.
QUEIMOU O FILME: Uma ou duas situações forçadas no terceiro ato, mas que não comprometem de forma alguma a obra.
FICHA TÉCNICA:
Nome: Os Croods (The Croods)
Diretor: Kirk De Micco, Chris Sanders
Elenco: Nicolas Cage, Ryan Reynolds, Emma Stone, Catherine Keener, Cloris Leachman, Clark Duke, Chris Sanders e Randy Thom
Produção: Kristine Belson, Jane Hartwell
Roteiro: Kirk De Micco, Chris Sanders
Fotografia: Yong Duk Jhun
Trilha Sonora: Alan Silvestri
Duração: 103 min.
Ano: 2013
País: EUA
Gênero: Animação
Cor: Colorido
Distribuidora: Fox Film
Estúdio: DreamWorks Animation
Classificação: Livre

Colaboração

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