Crítica de Filme | Trash – A Esperança vem do lixo

Antonio de Medeiros

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9 de outubro de 2014

Era grande a  expectativa para ver o novo filme de Stephen Daldry, Trash – A Esperança vem do lixo, principalmente por causa dos seus ótimos filmes anteriores como: “As Horas”, “O Leitor”  e “Billy Elliot”, sendo o último, o responsável pelo seu reconhecimento internacional.

Daldry é conhecido pela sensibilidade e talento na direção de atores. Essa habilidade pode ser comprovada pelo excelente rendimento que ele consegue extrair mesmo de atores não-profissionais, como é o caso dos meninos do filme.

“Trash” é sobre um garoto, Raphael, catador de lixo, que encontra uma carteira no lixão. Com a chegada da polícia no local em busca dessa carteira, o garoto junta-se a dois amigos para tentar decifrar o porquê do interesse da polícia e a partir de então,  eles partem numa aventura em busca dos 10 milhões cujas pistas estão dentro dela.  Nessa aventura, eles contam com a ajuda de um padre e de uma professora de Inglês.

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O carisma dos três atores-mirins, Rickson Tevez,  Eduardo Luis e Gabriel Weinstein, é um dos pontos altos do filme. Os três garotos se saem muito bem. Eles possuem a malandragem e a esperteza necessárias para sobreviver num ambiente tão hostil como um lixão.  Reconhecimento merecido também para o trabalho dos produtores de elenco, Francisco Accioly e Anna Luiza Paes, cujas contribuições se revelaram essencial para o filme.

O filme diverte, tem ótimas cenas de ação e humor. Porém, ele recebeu  um  subtítulo fraco: “A Esperança vem do lixo”, cuja escolha revela uma busca e defesa de uma moral presente em todo o filme, uma crítica social vazia por si só, que não vem naturalmente e parece forçada ao roteiro para contextualizar a atual realidade brasileira de manifestações, polícia desonesta e corrupção. Em algumas cenas, o filme carece de verossimilhança, como na cena final. Sem querer ser spoiler e não sendo, ninguém joga dinheiro no lixo.

O filme guarda muitas semelhanças com “Cidade de Deus”, “Quem quer ser um milionário” e “Capitães de Areia”. Parece que o filme não definiu o público alvo como adulto ou juvenil. Acredito que agradará muito mais ao público mais jovem. Caso essa escolha tivesse sido feita intencionalmente, creio que o filme teria sido um acerto maior.

O roteiro peca também na construção dos personagens de Wagner Moura (José Angelo) e Selton Mello (Frederico), que são subaproveitados. Talvez o cartaz de divulgação do filme cause esse confusão, dando um destaque que eles não possuem no enredo.

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Duas cenas que se sobressaem positivamente são a cena no presídio com Nelson Xavier, que apesar der ser uma pequena participação especial conseguiu realizar um dos momentos mais tocantes  e a cena do sequestro de Raphael, bastante tensa, principalmente no último momento, quando um policial é encarregado de executá-lo. Funciona bem, ainda,  os vídeos caseiros dos meninos dentro do filme,  esse recurso de metalinguagem  costura as cenas e ajuda a contar a estória com comentários engraçados, sendo que mais à frente entendemos a real função dele na história.

“Trash” tem como qualidades também o aspecto cenográfico, a reconstituição do lixão e da favela onde  moram os protagonistas foi muito bem realizado. O diretor fimou em  favelas e locações menos conhecidas, fugindo de um retrato caricatural  do Rio, o que é não é comum em se tratando de diretores estrangeiros.

BEM NA FITA: trilha sonora, fotografia (Adriano Goldman),  trabalho dos produtores de elenco e sensibilidade da direção de Stephen Daldry.

QUEIMOU O FILME:  em alguns momentos o roteiro não convence.

FICHA TÉCNICA:

Direção: Stephen Daldry
Roteiro: Richard Curtis, Felipe Braga
Elenco: Wagner Moura, Selton Mello, Richard Curtis, Rickson Tevez, Eduardo Luis, Gabriel Weinstein, Rooney Mara, Martin Sheen, André Ramiro, José Dumont
Gênero: Ação / Drama
Duração: 1h54min
Ano de produção: 2014
País: Brasil , Reino Unido

Antonio de Medeiros

Antonio de Medeiros apenas digita os textos entregues pela própria Patty, ou por seu sobrinho Fernandinho, em papeizinhos escritos à mão (cartõezinhos amarelados de fichamento) ou datilografados, às vezes manchados de café ou quase sempre de whiskey. Ela me fez prometer que eu não modificaria nem uma única vírgula. De modo que não me responsabilizo por sua opinião e pitacos. (Antonio De Medeiros é formado em Turismo pela UniRio. Atualmente, é funcionário público. Passou pela CAL e pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Ama Cinema, Literatura e Teatro. Sonha em ser escritor. Enquanto escreve peças e um romance, colabora para o site "Blah Cultural")
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