Crítica de Filme | Um Senhor Estagiário

Blah Cultural

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24 de setembro de 2015

O filme Um Senhor Estagiário, dirigido por Nancy Meyers é tido por quem assiste, como uma espécie de comédia semi-romântica.

De acordo com Cadu, um de nossos críticos, o filme não mede esforços para levar ao público ideias bem divertidas e para Tatiana, algo meio estranho e meia boca. Sem muita demora para este filme, confira as opiniões de Cadu Barros e Tatiana Reuter Ferreira, ambos com suas opiniões divergindo um bocado sobre a conclusão real do filme. Leia as críticas e tire suas conclusões.

Por Cadu Barros

Comédias sensíveis e inteligentes estão cada vez mais raras no cinema. Por isso é muito bem-vindo este “Um Senhor Estagiário”, novo filme da diretora e roteirista Nancy Meyers (“Do Que as Mulheres Gostam”). Nele, acompanhamos as peripécias de Ben, (Robert De Niro) um viúvo aposentado que, aos 70 anos, decide fazer estágio em uma empresa de comércio eletrónico baseado na moda. Lá ele se depara com uma gigantesca equipe formada majoritariamente por jovens com menos da metade de sua idade, liderados pela sobrecarregada empreendedora Jules (Anne Hathaway).

O maior mérito do roteiro é explorar de maneira sutil e bem-humorada o conflito entre gerações tão opostas. Porém quando a narrativa passa a se concentrar em Jules, isso perde força, e o personagem de De Niro infelizmente torna-se coadjuvante.

A química entre os protagonistas é perfeita, e Hathaway, que brilhou como a funcionária explorada pela chefe em “O Diabo Veste Prada”, aqui se mostra bem à vontade na pele da patroa moderninha. É quase como se víssemos o que aconteria com Andie após se ver livre de Miranda Priestly. Já Robert De Niro esbanja carisma e entrega uma das melhores atuações de sua carreira, tornando-se o coração do filme.

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A direção segura e sensível de Nancy Meyers evita que a obra se transforme em uma comédia banal, e a montagem não deixa o ritmo cair, mesmo quando o melodrama ameaça se sobressair. Porém a trilha sonora falha terrivelmente ao tentar induzir o público ao riso ou até mesmo às lágrimas, já que o filme não precisa desse artifício.

No final das contas, “Um Senhor Estagiário” apresenta-se como uma ótima opção para quem espera ansiosamente por uma comedia leve, inteligente e emocionante. E para os fãs de Robert De Niro, é um filme obrigatório.

Por Tatiana Reuter Ferreira

Enquanto assistia Um senhor Estagiário – título em português que poderia ser “o estagiário” e entregaria menos a ideia para quem não viu o trailer – me perguntei onde está o ator de Taxi Driver, Touro Indomável e O Poderoso Chefão. Robert De Niro é imenso e do alto de seus 72 anos, a qualidade do seu trabalho não cabe discussão. Aqui também está bem, aqueles filmes têm mais de 35 anos e muita água já passou por debaixo desta ponte. Anne Hathaway, outra atriz inquestionável, nos seus 32 anos, também parece ser maior do que Jules Ostin, chefe de Ben Whitaker (De Niro). Então, com grandes atores e uma diretora experiente, o que houve?

O filme não é ruim, deixando claro. É uma comédia leve, com alguns bons diálogos e é sempre um prazer rever De Niro e Hathaway, atores que todos adoram. O problema está no excesso de leveza talvez, na ampla gama de clichês de uma comédia de verão que não vai muito além disso. Jules Ostin é diretora de uma empresa de e-commerce, que está fazendo um sucesso estrondoso. Como a maioria das marcas nascidas na internet, seu crescimento foi vertiginoso e em pouquíssimo tempo o que era um blog, virou uma startup com 200 funcionários. Como parte de um projeto comunitário, um de seus colegas tem a ideia de contratar estagiários idosos, para que unam sua experiência de vida à ocupação do tempo livre – além de se importarem muito pouco com a renda, já que são aposentados. É com esta chamada que De Niro surge e a primeira cena já nos passa o teor do que veremos: a apresentação de seu personagem indica um senhor agradável, otimista e pragmático.

O filme mostra a rotina da empresa e as relações de trabalho que os estagiários – idosos e jovens – têm com o restante da equipe, focando na relação de Jules com Ben. A crise se deflagra quando um assistente de Jules sugere a contratação de um CEO, alguém com maior experiência de gestão que comandaria a empresa e traria mais segurança aos investidores. Essa estratégia entregaria o poder de Jules a um candidato homem – todos os entrevistados eram homens – por uma sugestão de outro homem. Onde está o erro? Ainda assim e apesar do choque, Jules é resistente à ideia, mas percebe que a calmaria em sua casa também é uma ilusão – não tem tempo para o marido e a filha, outros personagens fofos demais – e tenta encontrar uma solução que resolva os dois problemas de uma só vez. Parte para o processo seletivo. Neste meio tempo, Ben está sempre ao seu lado, pronto para atendê-la nas atividades mais diversas e sempre com a frase certa no momento preciso – benesses da experiência que a idade traz e alguma noção de timming.

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O filme corre sem grandes solavancos e ganha força em algumas cenas. A parceria com os atores que fazem os colegas estagiários é um ponto forte, Adam DeVine, Zack Pearlman e Jason Orley são hilários e o choque entre as gerações faz a diferença. Ao mesmo tempo, ficamos sem entender o afastamento voluntário de Jules de seus pais – que tentam se fazer presentes – se o próprio Ben acaba assumindo essa posição. Da mesma maneira, por mais feminista que seja o roteiro, fica a impressão de que sem ele, Jules estaria completamente perdida. O fato de ser mais velho e aqui darei o braço a torcer – o discurso bêbado da personagem de Anne no bar sobre isso é muito bom – acaba o transformando numa referência indireta de mestre para a vida.

Nancy Meyers é diretora deste e de, entre outros, Simplesmente Complicado, O Amor não tira férias e Alguém tem que ceder. Os três filmes são deliciosos, trazem temas e papeis onde a mulher tem destaque e as histórias são centradas nos pares que estão perdidos, tentando encontrar uma saída para suas relações, sejam com o passado, com as diferenças entre as gerações e sempre em relacionamentos amorosos. Neste último, ao menos, o foco está no trabalho, na carreira de uma mulher que almeja o sucesso e a família – e não há nada de errado nisso (estamos em 2015, vale lembrar) – mas, ainda tomamos susto ao descobrirmos que ela tem uma filha e é casada. Talvez o que falta neste estagiário seja algo que ultrapasse o bom moço. Não há sarcasmo, quase não há ironia e a construção de alguém sempre centrado e correto parece irreal. Não esperamos grandes aventuras de um senhor de setenta anos que resolve voltar ao trabalho, mas a submissão condescendente também incomoda. Ainda assim, vale para uma tarde de domingo, sem esperar que este seja um dos melhores filmes deste grande elenco e equipe – mas por tê-los, vale como passatempo.

FICHA TÉCNICA

 Gênero: Comédia

Direção: Nancy Meyers
Roteiro: Nancy Meyers
Elenco: Adam DeVine, Anders Holm, Andrew Rannells, Anne Hathaway, Annie Funke, C.J. Wilson, Celia Weston, Christina Brucato, Christina Scherer, Christine Evangelista, Drena De Niro, Erin Mackey, Jason Orley, JoJo Kushner, Julee Cerda, Linda Lavin, Liz Celeste, Maria Di Angelis, Mary Kay Place, Molly Bernard, Nat Wolff, Nikki Granatell, Paulina Singer, Peter Vack, Reid Scott, Rene Russo, Robert De Niro, Steve Vinovich, Wallis Currie-Wood, Zack Pearlman
Produção: Nancy Meyers, Scott Rudin, Suzanne McNeill Farwell

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