MARVEL’S JESSICA JONES

Crítica de Série | Jessica Jones (1ª Temporada)

Pedro Somini

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22 de novembro de 2015

No primeiro episódio de Jessica Jones, segunda série fruto da parceria entre Netflix e Marvel, a personagem título encontra-se em um banheiro fazendo suas necessidades, ao mesmo tempo em que utiliza seu computador para realizar seu trabalho. Essa cena nos entrega duas noções:  1) A personalidade ‘workaholic’ da protagonista;  2) A série não está preocupada em vender uma personagem bonitinha e plastificada.

A história segue Jessica Jones (Krysten Ritter), uma investigadora de Hell’s Kitchen dona de uma força física descomunal. Ríspida e durona, Jessica terá de enfrentar os demônios de seu passado após pegar um caso ligado a Kilgrave (David Tennant), o homem responsável por desgraçar sua vida, que possui a habilidade de forçar as pessoas a fazerem o que ele quer.

É impossível falar de Jessica Jones sem falar do teor feminista da série, todas as personagens femininas são fortes, possuem personalidade própria e correm atrás de seus próprios objetivos. Perceba, por exemplo, a cena em que um casal desesperado pelo desaparecimento da filha recorre aos serviços de Jones,  o marido ao ver que a porta da detetive está quebrada corre para conserta-la, sem que sua ajuda tivesse sido solicitada.  É como se um súbito dever em salvar o “sexo frágil” florescesse.

Aliás, vale ressaltar o fato de como Jessica não cai no estereótipo de personagem feminino tão difundido em filmes de ação. Ela não é masculinizada,  sua força sobre humana é resultado de um acaso, a jovem possui seus problemas pessoais, chora e testa seus limites. Seu alcoolismo é prova de uma personalidade autodestrutiva acompanhada com seu  hábito em manter distância das pessoas.

É interessante perceber o dilema que a protagonista tem com o termo “heroísmo”. É como se ela não se considerasse digno de tal alcunha, porém seu senso de justiça  sempre a leva ao mesmo caminho que seus outros amigos poderosos acreditam ser o certo. Jones pensa ser uma espécie de anti-heroína, mas jamais deixaria a vida de alguém em apuros, ou pior, matar uma pessoa por um suposto “bem maior”.

MARVEL'S JESSICA JONES

Já Patricia “Trish” Walker (Rachael Taylor), melhor amiga de Jessica (ou pelo menos era) apesar de transmitir uma imagem um tanto fútil e uma visão ingênua de mundo, a cada episodio ganha mais destaque, reforçando a proposta do seriado de que mulheres não precisam e não querem ser protegidas por homens, aliás, elas tem medo deles, por isso a radialista – ela tem um famoso programa de rádio na cidade de Nova York – sempre está treinando defesa pessoal.

A personagem que fecha essa trindade, se assim podemos chamar, é Jeri Hogarth ( Carrie Anne-Moss ), uma respeitada advogada de Nova York que constitui sua reputação por nunca perder nenhum caso. Ela também está passando por um processo de divórcio após trair sua parceira com a secretária, mas o fato desse triângulo amoroso ser homossexual não possui nenhuma relevância na série. Jeri pode desagradar muita gente devido a sua semelhança com Claire Underwood, personagem vivida por Robin Wright em House Of Cards, mas felizmente ao passar dos episódios, Jeri demonstra uma personalidade própria afastando-se de seu estigma de cópia.

Apesar de ser um show feminista, a série de Melissa Rosenberg conta com personagens masculinos muito bem trabalhados. Luke Cage (Mike Colter) que logo ganhará uma série própria possui presença em cena, e apesar de não ser um grande ator consegue transmitir a serenidade misturada com a raiva que seu personagem exige.  Eka Derville da vida a Malcolm, um viciado que sempre é ajudado por Jessica e que ganha papel central na trama, mostrando que não é necessário poderes para ser um herói.

Mas se alguém consegue roubar a cena é David Tennant (Doctor Who) com seu Kilgrave. A figura de Kilgrave ronda a série de seu início ao fim, luzes roxas, personagens e objetos de cor de tons púrpura, conseguimos entrar na cabeça de Jessica, e mesmo sem saber o que ele fez de tão ruim, sentir medo da curiosa figura.

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O sotaque britânico de Tennent garante carisma a Kilgrave, e a série acerta mais uma vez ao criar um vilão diferente de Wilson Fisk de Demolidor. Diferente de Fisk, dificilmente sentimos pena de Kilgrave, ou medo de que ele exploda e acabe matado alguém, porque ele sempre acaba fazendo com que as pessoas se matem. Por onde ele passa, causa terror e morte, e seu poder o da um certo ar de invencibilidade.

Mas não é por sentirmos pena do vilão que ele seja mal construído, pelo contrário. Sua personalidade mimada é fruto de seus poderes que garantem tudo o que ele quer, gerando arrogância e prepotência. É interessante analisar que seu amor obsessivo por Jessica é semelhante ao dos homens do cotidiano de várias mulheres, sempre pensando que faz o melhor para a amada, Kilgrave somente gera repúdio, e realmente o vilão não consegue perceber isso, apenas conseguindo tudo o que quer pela força.

Porém Jessica Jones não é só flores. Apesar de contar com um bom piloto, sua primeira metade não empolga, não que chegue a ser ruim mas existe um certo ritmo acelerado que no fim das contas não leva a lugar algum, a personagem parece sempre andar em círculos. Mas isso muda do episódio 8 para frente, a série cria dinamicidade, ação e inclusive violência, algo que não tinha em seu começo.

Melissa Rosenberg, que escreveu a saga Crepúsculo pro cinema e alguns episódios de Dexter é quem comanda a série. Não sabemos se é por conta do material  mas ela fez um bom trabalho, apesar da serie ser bastante previsível (salve algumas horas) e o público conseguir prever alguns diálogos antes deles serem ditos.

Em suma, Jessica Jones é uma boa série, que apesar de alguns problemas narrativos é dona de uma galeria de personagens interessantes e carismáticos. Não cabem comparações com Demolidor, afinal são duas propostas diferentes, e ainda bem que são.

FICHA TÉCNICA

Título original: Marvel – Jessica Jones

Gênero: Ação, Noir

Direção: S.J Clarckson. David Petrarca, Stephen Surjik, Uta Briesewitz, Bill Glerhart, Rosemary Rodriguez

Showrunner: Melissa Rosenberg

Elenco: Krysten Ritter, David Tennant, Rachael Tayler, Carrie Anne-Moss, Mike Colter, Eka Derville e Will Traval

Produção: Dana Baratta, Kevin Feige, Liz Friedman, Tim Iacofano, Stan Lee, Joe Quesada

Ano: 2015

País: Estados Unidos

Pedro Somini

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