Crítica de série | Law & Order: SVU (16ª temporada)
Sabrina Rodrigues
|20 de junho de 2015
“Eu cresci mais nos últimos quatro anos com você do que nos 12 anos que eu estive com ele. Aquele relacionamento ou o que quer que fosse não permitiu qualquer outra coisa”. Vou parar por aqui, pois achei essa frase dita por Olivia Benson uma das mais ingratas em relação a ex-parceiros que já vi em série.
Faço coro aos fãs que não gostaram dessa frase que compôs o último episódio da 16ª temporada de Law & Order: SVU e a última com a presença do Detetive Amaro, interpretado por Danny Pino. Embora o showrunner da série, Warren Leight tenha dito numa breve entrevista ao The Hollywood Reporter, que essa frase foi mal-interpretada pelos fãs da série.
Segundo Warren Leight, Olivia estava falando como o seu relacionamento com Stabler não a permitiu outras coisas e não estava falando mal dele, ela estava querendo fazer com que o Detetive Amaro se sentisse valorizado naquele momento em que ele estava contando a ela que estava deixando o departamento. Enfim, não achei essa explicação convincente, pegou mal e se era essa a intenção, que fosse dita de outra forma ou que não fosse dita. Há maneiras de você valorizar alguém sem citar outra pessoa de forma não elogiosa.
A 16ª temporada teve como temas e plots: rede de prostituição, vimos também o Detetive Amaro de volta às patrulhas devido ao seu comportamento na temporada anterior (episódio 1: Girls Disappeared), jogador de basquete acusado por uma assessora de imprensa por abuso sexual, colocando Liv e Carisi com perspectivas diferentes a respeito do caso, um acredita na história da assessora, o outro não (episódio 2: American Disgrace).
Um dos episódios mais provocativos e reflexivos dessa temporada foi episódio 5 (Pornstar’s Requiem) onde uma jovem trabalhava na indústria pornográfica e por isso, foi vítima de um estupro e não bastasse isso, nos vimos diante de um machismo implícito da justiça que praticamente a culpou pela sua profissão por ser a responsável pelo o que aconteceu com ela. A cena final dela voltando a fazer filmes pornográficos, não por profissão, mas por se achar um lixo, foi de um desconforto imensurável. Uma atriz, por fazer filme pornográfico tem que ser estuprada? Ela é culpada disso? Deveria ser pensamento sacramentado de que mulher, homem, criança, ninguém merece ser estuprado. Episódio emblemático para mostrarmos o quanto todos os segmentos da sociedade ainda estão contaminados por preconceitos.
Essa temporada teve várias crossoovers com as outras séries da franquia de Dick Wolf (Chicago Fire e Chicago P.D.), todas chocantes envolvendo casos de pedofilia, pornografia infantil… A última crossover com Chicago P.D. (série que também acompanho) foi chocante e determinante para o rumo da personagem Lindsay (Sophia Bush) de Chicago P.D. para a próxima temporada.
É bom ver estrelas de outras séries participarem de outras séries que assistimos. Marcia Cross, a Bree de Desperate Housewives protagonizou uma mulher acusada de abusar do marido, um escritor famoso e rico no episódio 16 (December Solstice). E no episódio 21 (Perverted Justice) tivemos a presença da Samira Wiley, a Possey de Orange is the New Black, atuando como uma filha que altera a sua acusação num caso de incesto e estupro. Nesse mesmo episódio, vemos o Dr. Wilson (Robert Sean Leonard) da lendária série Dr. House. Esse episódio foi um brinde, pois além disso tudo, teve o Cap. Cragen!
A 16ª temporada abordou uma parte da vida pessoal-profissional da detetive Amanda Rollins ( Kelli Giddish), no episódio 10 (Forgiving Rollins), quando o seu antigo chefe em Atlanta vai para Nova York acompanhado de uma detetive. Em Nova York, essa detetive é encontrada inconsciente e Amanda é obrigada a confrontar seu passado, seus traumas em relação ao seu ex-chefe abusivo e ter qa coragem de enfrentá-lo.
Aliás, a vida pessoal de alguns personagens não faltou nessa temporada. Vimos o pai do detetive Amaro envolvido num caso de abuso doméstico (episódio 12: Padre Sandunguero), parabéns ao ator Armand Assante (Gotti- No Comando da Máfia) pela interpretação de um personagem tão detestável. Teve a irmã de do detetive Carisi na série (episódio 16: Parole Violations). Conhecemos o drama pessoal do promotor Rafael Barba (Raul Esparza) e a questão de colocar ou não a sua amada avó numa casa de repouso. Vimos Olivia batalhando para se dedicar a Noah e provar aos profissionais do Serviço Social que ela pode adotar e cuidar do menino. E por falar na relação Olivia e Noah, o último episódio (Surrending Noah) foi essencial para encerrar um plot e dar definição na relação mãe e filho.
Tudo tem início quando Olivia consulta o promotor Rafael Barba (Raul Esparza) do desejo de pôr o nome do pai na certidão de Noah, o que é desaprovado por Barba, que já previa as consequências que vimos no episódio. É compreensível o desejo de Olívia de ter uma relação sem mentiras com Noah desde o início, não escondendo dele a sua origem para que as mentiras e omissões não atrapalhem o relacionamento dos dois quando ele crescer. Entretanto, ao dar conhecimento ao traficante, cafetão e assassino Johnny D do seu desejo em adotar Noah, ela abre uma brecha a ele para a sua defesa. Com isso, ao longo do julgamento de Johnny D, vimos uma sucessão de medo, intimidações e assassinatos. O bom é que esse plot teve um fim. Olivia segue adiante com Noah e espero uma 17ª temporada melhor.
Polêmicas a parte, com todos os altos e baixos que a série possa ter tido, ela continua sendo uma das minhas preferidas. Pelos temas polêmicos, provocativos, sensíveis e delicados, numa temática difícil de transmitir para a telinha sem parecer apelativo e piegas, Law & Order: SVU, apesar de tudo, conseguiu se desgastar menos do que CSI, pela contemporaneidade dos temas, sempre atuais. Talvez, por isso, tenha mantido uma legião fiel de fãs que a acompanham ao longo desses 16 anos, novos fãs (pois as maratonas na tv e a web estão aí para isso) e isso tenha permitido a renovação da série para o seu 17º ano!
Thank u @nbcsvu @WolfFilms cast, writers, directors, guest casts, crew, editors for 4 fantastic seasons. Grateful for all the #SVUDieHards
— Danny Pino (@TheDannyPino) May 21, 2015