Crítica de Teatro | Madame Bovary
Anna Cintra
|20 de abril de 2015
Uma mulher que não se satisfez com a vida a qual foi destinada. Assim é Emma, personagem central de Madame Bovary, obra concebida por Gustave Flaubert, em 1857, na montagem do espetáculo homônimo dirigido por Rafaela Amado e Bruno Lara Resende.
1857?! Sim, você leu corretamente. Mas , por que voltarmos nossos olhos para uma época tão distante,o longínquo século XIX, quando à mulher era dada somente a possibilidade de viver de acordo com os princípios da Igreja e de um rígido conceito moral, sem liberdades ou independência? Porque, apesar de ainda presenciarmos resquícios dessa opressão, foi Emma – assim como “Anna Karenina” de Tolstói, Luiza de “O Primo Basílio” de Eça de Queiroz ou “Capitu” de Machado de Assis,entre outras – a personagem da literatura precursora da divulgação dos valores da emancipação feminina.
A jovem Bovary (Raquel Iantas, passional! ) até que tenta se adaptar ao casamento arranjado, à maternidade não desejada,à vida entediante e reclusa no interior da França e ao papel de religiosa devotada. Mas é arrebatada por uma crescente frustração,um querer mais e uma ânsia de viver que não podiam fazer parte do seu repertório naquele tempo. Não é à toa que profere frases como “De onde vem essa insuficiência da vida? Essa decomposição instantânea das coisas?” Procura a si mesma nos homens fora do casamento e no consumismo irresponsável.Contrai dívidas, é chantageada por um agiota sem escrúpulos,sente-se só e angustiada. Está a um passo do desespero,diante de uma sociedade inquisidora e moralmente dúbia…
É uma honra assistir a Joelson Medeiros, cria do Teatro Curitibano,convincente como Charles,o médico sem maiores ambições e marido traído. E ter a grata surpresa do talento de Alcemar Vieira,que alterna-se,principalmente,entre Leon e Rodolfo, amantes de Emma. Lourival Prudêncio e Vilma Melo completam e enriquecem o elenco. Inclusive, escutei em bate papo após a peça,que Vilma era,em muitos momentos, uma das melhores em cena.
Cenário minimalista e figurino contemporâneo ajudam a destacar ainda mais esses cinco bons atores no palco e valorizam a narrativa diferenciada, onde cada personagem expõe seus próprios pontos de vista. Apenas uma ressalva: os bancos e mesas que se dividem e reconfiguram-se de acordo com a cena são à princípio uma ótima ideia mas, ao longo das duas horas , o empurra/sai/entra dessas peças pode cansar o público. Mas nada que atrapalhe o andamento do espetáculo,que ainda tem a luz incrível de Renato Machado.
Madame Bovary, o livro, é um dos marcos da literatura universal. E Madame Bovary, a peça, faz jus a obra de Flaubert e merece uma visita. Até porque, só para lembrar: existe um pouco de Emma dentro de cada uma de nós.
FICHA TÉCNICA
Direção: Rafaela Amado e Bruno Lara Resende
Tradução e Adaptação : Bruno Lara Resende
Colaboração artística: Marcio Abreu e André Lepecki
Direção de Movimento: Marcia Rubin
Música: Antonio Saraiva
Cenário:Marcelo Lipiani
Figurino : Patricia Lampert
Iluminação:Renato Machado
Projeto Grafico:Lygia Santiago e Mauricio Grecco
Foto de Arte:Maurício Grecco
Foto de Divulgação: Milton montenegro
Foto do elenco do programa: André Fachetti
Assessoria de Imprensa : Luciana Medeiros e Paula Catunda
Assistente de cenografia: Paula Vilela
Assistente de figurino:Herika Reis Kohl
Modelista:fátima Léo
Hair Designer : Marcia Elias
Camareira Luci Moreira
Operadores de Som:Leo magalhães e Daniel Marques
Operador de Luz: Neck Vilanova
Cenotécnico:Beto de Almeida
Atores: Raquel Iantas,Joelson Medeiros,Lourival Prudêncio,Vilma Melo e Alcemar Vieira
Realização: Cris Lara Produções