Crítica de Teatro | O Funeral

Gabrielle Meira

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28 de outubro de 2015

O espetáculo O Funeral, continuação da montagem “Festa de Família”, mostra os irmãos e parentes se reunindo para o velório do chefe da família, Helge (Paulo Giardini).

Nesta peça, a direção de cena é ofuscada pela direção de atores, com uma carga emocional mais forte. Percebe-se que o diretor Bruce Gomlevsky focou no drama pessoal de Christian (um dos filhos de Helge), que acaba envolvendo toda a família. A aposta no tema abuso infantil envolve e emociona o público por ser um assunto forte. Porém a direção de cena, tão bem pensada e sutil em “Festa de família”, aqui confunde o público em alguns momentos.

A peça possui um cenário simples. Podemos ver um desmontagem do cenário da peça “Festa de Família”, apenas o Lustre e o piano na arena e um caixão na entrada, com o morto deitado recepcionado o público. A troca de cenário, realizada de forma simbólica, não convence, pois não há jogo de luzes elaborados para tentar modificar o ambiente. Os personagens entram e saem o tempo inteiro, de forma exagerada, o que faz o espectador notar toda a movimentação do elenco, causando dispersão. Além disso, há um abuso do recurso de cenas que acontecem fora dos olhos do público, não sendo possível manter a sutileza e linearidade da peça anterior (Festa de Família)

O Funeral aborda um assunto importante, e que costuma ser deixado de lado : o abuso infantil. Os atores conseguem transmitir toda a visão do abusador e da criança, de uma forma agressiva, porém eficaz. Em uma das cenas, o espírito do pai morto (Paulo Giardini), mostra a personagem Sofie ( Thalita Godoi), noiva de Michael ( Gustavo Damasceno), o motivo pelo qual realizava o abuso sexual em seus filhos, enquanto vivo. A cena é tão bem dirigida e a atuação dos dois atores é tão brilhante, que podemos entender o motivo do abusador.  É neste momento que a direção de Bruce, é sagaz e inteligente, ele instiga e força o público a ouvir as explicações, mesmo que o espectador demostre certa repugnância e constrangimento, por estar sendo “obrigado” a ouvir as explicações. O diretor sabe que esta é a melhor forma de fazer as pessoas pensarem e tratarem do tema do abuso infantil, mesmo depois de deixar a peça .

O ponto alto do espetáculo se encontra na última cena, com um final genial e surpreendente, que faz o público sofrer um constrangimento válido e inteligente. O funeral é uma peça imperdível, um soco no estômago e um tapa na cara. É recomendado que seja assistida depois da sua primeira parte: “Festa de Família”, já que uma completa a outra, e no final formam uma só montagem.

::: FICHA TÉCNICA

Texto: Thomas Vinterberg, Mogens Rukov e Bo. Hansen
Direção: Bruce Gomlevsky
Tradução: Ricardo Ventura
Elenco (em ordem alfabética):
Carolina Chalita / Pia
Gustavo Damasceno / Michael
João Lucas Romero / Kim
Luiza Maldonado / Helene
Paulo Giardini / Helge
Rafael Seig / Christian
Raul Guaraná / Henning (o menino)
Thalita Godoi / Sofie
Participação especial de Xuxa Lopes como Else
Cenografia: Bel Lobo e Bruce Gomlevsky
Trilha sonora original: Zgbibiew Preisner
Iluminação: Elisa Tandeta
Figurino: Ticiana Passos
Fotos: Tatiana Farache
Design Gráfico: Mauricio Grecco
Assistente de direção: Elisa Tandeta
Direção de produção: Luiz Prado
Produção: BG artEntretenimento Ltda
Realização: Cia Teatro Esplendor
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

Gabrielle Meira

Estudante de Jornalismo, na Universidade Castelo Branco . Gosta de ler livros, ir ao cinema e atua em peças de teatro . Não se incomoda que a chamem de Gabrielle, mas prefere Gabi . Ama uma ótima conversa ( de preferência interessante), não é chata, apenas questionadora por natureza .
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