CRÍTICA | ‘Elon Não Acredita na Morte’ é muito atraente, especialmente para o público ávido por novas experiências cinematográficas

Luis Loarte Padilla

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27 de abril de 2017

Existem alguns filmes com uma visão existencialista própria da natureza do personagem, outros que geram diferentes significados sem jamais enquerir-se por completo, e os que deixam com uma sensação de que a história nunca terminou. Elon Não Acredita na Morte é desses. Dirigido por Ricardo Alves Junior e tendo o principal personagem interpretado intensamente por Rômulo Braga, o longa mostra, através do drama e do mistério de cenários sombrios, um personagem perturbado, mas com uma luz interior singularmente valiosa.

A história começa quando a esposa de Elon (Rômulo Braga), Madalena (Clara Choveaux), desaparece misteriosamente e não retorna para casa depois do trabalho. Ele inicia então a procura pela sua esposa por lugares sombrios e estranhos da cidade.

O filme possui uma narrativa linear. A parte mais intrigante do roteiro seria a ausência de Madalena na vida de Elon, no entanto, através de um olhar diferente, talvez o problema não seja a própria ausência e a procura de Elon, mas por que decidiu fugir e o que exatamente aconteceu com ela. De qualquer modo, a percepção principal da trama é de uma procura quase inconsciente, ultrapassando os limites da razão, projetando uma pessoa que não consegue lidar com a solidão e não aceita a realidade, enganando-se na procura, quiçá, dele mesmo.

A ausência da mulher de Elon e o próprio desequilíbrio na mentalidade dele podem ser interpretados também como um aporte à construção dos espaços físicos e como um importante elemento produtor de significados na narrativa fílmica. A iluminação e a própria direção da fotografia, com composições cheias de escuridão durante todas as cenas, incomodam, em algumas partes e prejudicam o transcorrer da narrativa e da próprio abordagem da história. Além disso, as poucas participações com os demais personagens do elenco (como as estreladas por Grace Passô e Lourenço Mutarelli) fizeram com que o enredo, por momentos, se tornasse um monólogo e, com isso, o longa, aos poucos, se transforma num ritual de espera, com um ritmo lento devido à ausência de novos elementos narrativos.

No lado técnico, tudo o que a câmera conseguiu captar de uma forma atraente foi melancolia, preocupação e desespero do personagem. Além disso, cada cena é apresentada num só plano e a utilização dos planos longos em quase todas as cenas do filme são planos-sequência utilizados para conectar a outros.

A iluminação de Elon Não Acredita na Morte é sombria e, no decorrer das cenas, se apresentam estilos altamente contrastantes com os efeitos de luz. O tipo de iluminação é o conhecido como “low-key”, que é mais expressivo ao deslocar a luz principal para um dos lados do personagem, deixando visível só uma parte do corpo deles. Um exemplo disso é mostrado na cena de sexo do protagonista com a mulher dele, onde são visíveis um dos lados da face, iluminando-o de baixo para cima. Aliás, os efeitos do som e a trilha produzida por Daniel Saavedra (músico e produtor de Belo Horizonte) acompanham o espectador no mistério do começo ao fim da projeção.

O processo narrativo demostra um interessante aspecto da composição do drama e do mistério: um homem que luta para sobreviver à ausência do que parece a sua única razão de equilíbrio entre a alucinação e a realidade, com gritos de alerta e silêncios que, por vezes, fazem nele perseguir, ir atrás de algo ou de alguém que nunca mais poderá voltar. O título do próprio filme já revela, de certa maneira, a insanidade ou a vontade do personagem para não desistir do vazio ao perder um ser próximo. Alguém que saiu da existência dele e que foi peça fundamental para o decorrer de sua vida normal.

Elon Não Acredita na Morte é um filme que deixa o final aberto a interpretações, com um roteiro destacado e uma direção de fotografia criativa. O longa, como um todo, é muito atraente, especialmente para o público ávido por novas experiências cinematográficas.

TRAILER:

FOTOS:


FICHA TÉCNICA:
Direção: Ricardo Alves Junior
Elenco: Rômulo Braga, Clara Choveaux, Germano Melo
Distribuição: Vitrine Filmes – Sessão Vitrine Petrobras
Data de estreia: qui, 27/04/17
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2017
Duração: 74 minutos
Classificação: 18 anos

Luis Loarte Padilla

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