CRÍTICA | Com temática existencialista, ‘Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer’ beira à catástrofe positiva

Giovanna Landucci

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31 de agosto de 2018

Dentro da realidade atual do cinema brasileiro, é extremamente interessante que Thiago Luciano tenha tentado realizar uma obra de viés existencial. Thiago inova compondo todos os cenários possíveis de se interpretar. Ele atua como protagonista, dirige, elabora as ideias, monta e escreve o roteiro do longa metragem que deixa o espectador confuso e no ar de tão inspirador que Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer é.

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E no final de tudo, o diretor conseguiu atingir seu objetivo e mostrar a que veio. Um filme que trata das imagens que nosso cérebro constrói sem cronologia, ordem de fatos, e que compõe as nossas memórias. Com um visual belíssimo e que chama atenção, além de textura caprichada em suas imagens, uma fotografia intensa pautada em paletas sóbrias e tons sombrios quando trata de momentos de intenso inverno e uma intensa propriedade de cores alegres e tons pastéis que lembram um entardecer quando vivem o calor e a alegria. Contudo, estas ideias acabam sendo desperdiçadas por uma obra que parece não ter o mínimo interesse em ser compreendida.

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Num aparente futuro, onde a sociedade de uma determinada cidade é dividida entre picos de calor avassalador e frio brutal, um casal precisa lidar com o luto e a depressão que os ronda, afetando todas as relações à sua volta. Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer traz a história de Iran (Thiago Luciano), que trabalha em uma fábrica de gelo e suas distopias. Ele e o restante da humanidade vivem em um mundo gravemente afetado por mudanças climáticas e, para se situar, o espectador assiste, junto a outros personagens, notícias veiculadas na televisão por um canal sensacionalista que se usa de um cientista para tentar explicar os fenômenos climáticos que vêm ocorrendo, e que, na visão dele, causam também disfunções na mente humana.

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O filme não é elucidativo e abusa dos silêncios contemplativos. Não há com o que compará-lo. As cenas se alternam entre a desconexão e a falta de sentido, além do vai e volta que faz entre memórias do protagonista e a realidade que ele atualmente vive. Caco Ciocler aparece em uma composição bastante inusitada, onde fica quase difícil identificar o ator por causa de sua ótima caracterização. É grande a chance do espectador se surpreender com um projeto estranho, que se mostra pautado em sentimentos e emoções, com personagens que, no fim, não se incomodam com a mera possibilidade de contemplarem infindavelmente a grande noite que se avizinha. Trata-se de uma obra cujo as lacunas narrativas potencializam o todo, dando ênfase muito maior às imagens que ao contexto de diálogos e metáforas entre Iran (Thiago Luciano) e seu chefe (Caco Ciocler).

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A ideia principal da obra traz um pouco do que “Antes que Eu Me Esqueça” conseguiu sabiamente fazer, elucidando melhor, construindo diálogos em contraponto ao existencialismo do tema e ao vitorioso uso das emoções junto à trilha sonora. Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer faz a mesma coisa, mas com outro objetivo, o de atrair a atenção do espectador e fazer com a música o que não se conseguiu com o roteiro: contextualizar.

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Além disso, o longa é recheado de frases de efeito que nos permitem contextualizar melhor a trama e fazer reflexões pessoais, criando empatia com a película. Passagens como “A maior catástrofe da natureza é a perda”; “Eu tinha encontrado um jeito de viver num mundo frio: sobreviver”; “A dor é apenas uma escolha e eu não quero que passe”; “As mudanças são sempre para o bem, mesmo que nós não a entendamos”; são algumas das muitas que posso citar. Dessa forma, Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer demonstra a que veio e se consolida, mesmo deixando tudo no ar, sem chão e sem conexões.

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::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Thiago Luciano
Elenco: Caco Ciocler, Lucy Ramos, Walter Breda, Thiago Luciano
Distribuição: O2 Play
Data de estreia: qui, 30/08/18
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2016
Duração: 87 minutos
Classificação: 14 anos

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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