CRÍTICA | ‘La Casa de las Flores’ reúne toda a essência de uma verdadeira comédia dramática

Bruno Cavalcante

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21 de setembro de 2018

No último mês de agosto estreou na Netflix mais uma criação do serviço de streamming, a série “La Casa de las Flores”. Se trata de uma produção mexicana, uma comédia dramática, que nada tem a ver com “La Casa de Papel”, apesar do nome ser parecido. A série, uma criação do cineasta Manolo Caro, apresenta de maneira bem peculiar o drama vivido pela família De la Mora e, confirmando, mais uma vez, que ‘nem tudo são flores’ quando falamos de família.
Algumas pessoas podem chegar a identificar diversos elementos dos dramalhões mexicanos exibidos pelo SBT em “La Casa de las Flores”. E de fato isso está completamente impresso no enredo, afinal, não teria como retratar a vida de uma família da alta aristocracia mexicana, sem apelar para os exageros e suas características mais pertinentes. No entanto, se você pensa que tudo isso é motivo para tornar a produção ruim ou brega, é aí que você se engana. Manolo Caro superou todas as expectativas e nos trouxe um material completamente original, instigante e literalmente hilário.

Qual é a história de “La Casa de Las Flores”?

A princípio, a série poderia realmente ser qualquer uma dessas novelas produzidas pela Televisa, mas, em instantes, como que num piscar de olhos, a coisa toda muda de figura. Em meio a um evento de sua renomada floricultura, no qual se encontra toda a alta sociedade local, sua família e também amigos, a matriarca Virgninia De la Mora (Verónica Castro) se depara com o suicídio de uma de suas funcionárias mais queridas, encontrada enforcada dentro de uma das salas internas do empreendimento. Todavia, a defunta não se tratava apenas de mais uma empregada qualquer, mas sim da amante de seu marido Ernesto (Arturo Ríos), com quem esteve casada há 40 anos. E tudo isso é revelado ao longo do primeiro episódio, para o desespero de Virginia, que precisa agir rápido antes que os convidados desconfiem.
Pois bem, passado o susto, eis que Roberta (Claudette Maillé), a morta, aparentemente havia deixado uma carta para a esposa de seu amante, antes de cometer o ato suicida. E, a partir de toda essa confusão, do conteúdo da carta, entre outras situações, é que “La Casa de las Flores” se apresenta como uma das séries mais originais e interessantes do momento.

Uma narrativa ágil e envolvente

Com este projeto, Caro conseguiu desenvolver algo que eu jamais havia encontrado em uma produção mexicana, uma narrativa completamente simples, porém ágil e muito envolvente. Em um único episódio tudo pode acontecer. É interessante que todos os problemas que envolvem a família De la Mora surgem como se fossem uma única avalanche, que vem de repente, carregando tudo ao seu redor. Além disso, as conexões são de fato muito bem feitas, ou seja, não existe qualquer tipo de tédio. Tudo é tão interessante, que a cada final de episódio você fica com cada vez mais vontade de ver outro e outro.

Situações verdadeiramente hilárias!

A primeira temporada de “La Casa de las Flores” possui um total de 13 episódios, porém em cada um deles você terá muitos motivos para se escangalhar de rir, mas só se você for um apreciador de um humor mais ácido e bastante sutil. As cenas de comédia que envolvem os personagens são simples, mas apresentadas com tanta maestria pelo elenco, que tudo se transforma em uma grande piada de humor negro.
Muito desse sucesso hilariante se deve ao texto de certa maneira jocoso criado por Manolo, e, claro, da maravilhosa Cecilia Suárez, que na trama vive a primogênita Paulina. Suárez se destaca bastante nesta obra devido a maneira como sua personagem se expressa, com uma fala bem própria, quase que pausadamente, como se fosse um certo tipo de deboche atravessado em seu discurso. E ela faz isso de uma forma tão natural, que achamos que a atriz é de fato daquela maneira, quando não. Esse jeito de Paulina é um dos elementos que consegue transformar qualquer situação mais corriqueira em algo completamente hilário.
E se as situações vividas por Paulina não forem suficientes para fazer você morrer de rir, Caro tratou de inserir também outras pílulas bem eficazes para tornar o riso ainda mais fácil. Afinal, não é todo dia que você se depara com um funeral liderado por travestis dublando músicas bregas em espanhol dos anos 80, dentro de um cabaré. E é daí pra pior meus queridos… ou melhor, tudo depende do seu ponto de vista. Mas a verdade é que o resultado é simplesmente maravilhoso.

Trata de assuntos sérios e pertinentes

Apesar de todo esse humor negro inserido ao longo da trama de “La Casa de las Flores”, a sinopse também fala de temas polêmicos, antigos e atuais, como a infidelidade, relação entre pessoas de idades diferentes, homossexualidade, bissexualidade, preconceito e até mesmo identidade de gênero, através de uma personagem transsexual. No entanto, todos esses assuntos possuem maneiras distintas de serem abordadas, algumas de uma maneira mais natural, já outras nem tanto assim.
Aliás, falando um pouco do desenvolvimento dos traumas de cada personagem, acredito que a série tenha pecado por aí. Não sei devido a Manolo Caro idealizar “La Casa de las Flores” como algo além de uma primeira temporada, com personagens intensos e complexos, o drama de muitos deles acabou sendo apresentado de forma simples e superficial, quando na verdade sabemos bem quem as coisas levam um certo tempo para se encaixarem. Achei tudo muito acelerado em algumas partes, principalmente em relação às atitudes tomadas por Virginia para superar o caos repentino em sua vida, ou até mesmo em relação aos sentimentos de Paulina, após sofrer com tantos baques da vida. Mas como eu disse, pode ser que tudo isso ainda seja explorado um pouco mais adiante, não sei.

Trilha maravilhosa!

“La Casa de las Flores” também pode receber todos os louros por sua trilha sonora. Se você curte música em espanhol das décadas de 80 e 90, essa série foi feita pra você. O repertório abrange vários clássicos da música latina, o que também implica em diversas referências da cultura pop local. Se você é ligado ao universo pop latino, certamente irá entender cada uma delas. Abaixo temos uma seleção dos melhores clássicos presentes na série. Até agora não consigo parar de cantarolar “La Maldita Primavera” (socorrooo!! rsrs).
https://open.spotify.com/user/spotify/playlist/37i9dQZF1DX6mrK1Il4p3Y

Vamos ter uma segunda temporada?

Como falei anteriormente, “La Casa de las Flores” parece realmente ter sido desenhada para pelo menos umas duas temporadas, a julgar o tanto de coisa que ficou sem explicação ao término do 13º episódio. Para começar, o motivo do suicídio de Roberta não chegou a ser revelado, temos também a situação da floricultura, o casamento mal sucedido de Elena, a relação turbulenta de Julian e aquele final meia boca de Virginia (aquilo não me desceu).
Em entrevista à revista Quién (Quem), Manolo revelou que está pronto para uma nova temporada. “Não vou negar, eu iria adorar fazer. É uma loucura o que está acontecendo, então se amanhã falarem sobre uma nova temporada, eu a faço feliz”, revelou.
Mas Caro irá precisar arrumar uma substituta para Verónica Castro, ou conseguir fazer com que a atriz mude de ideia em relação a uma continuação. Apesar do sucesso da série, a atriz já havia declarado que acredita que sua personagem chegou ao seu fim. “Acredito que esse é o meu fim. Com esta temporada chego ao meu fim (na série). A história dela já terminou. O que mais querem ver dela? Na verdade querem, mas eu não mais”, disse Castro em entrevista à Quién.
“Em breve uma grande temporada de flores; todo tipo de flores”, anunciou recentemente a Netflix, confirmando a segunda temproada para 2019. Se você ainda não conferiu a série, está perdendo boas risadas. Ansiosos pela season 2!
https://www.youtube.com/watch?v=I-z8-ZEiVw0

::: FICHA TÉCNICA

Título original: La Casa de las Flores
Temporada: 1
Criação: Manolo Caro
Elenco: Dario Yazbek Bernal, Verónica Castro, Luis de La Rosa, Aislinn Derbez, Cecilia Suárez, Lucas Velazquez, Paco León, Roberto Quijano, Sofía Sisniega e Sawandi Wilson
Produção: Netflix
Gênero: Comédia dramática
Ano: 2018
País: México

Bruno Cavalcante

Meu nome é Bruno Cavalcante, sou formado em publicidade e propaganda, carioca, escorpiano, apaixonado pela vida e por cinema também. Meu gênero preferido é o terror, mas gosto e vejo de tudo um pouco.
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