CRÍTICA | ‘Minha Fama de Mau’

Renata Teófilo

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11 de fevereiro de 2019

O diretor carioca Lui Farias traz para as telas a história da vida e carreira de Erasmo Carlos, num período que abrange o fim dos anos 50 até o começo dos anos 70. O cantor viveu seu auge como performer durante a transmissão do programa Jovem Guarda na TV Record, juntamente com seus companheiros de palco Roberto Carlos e Wanderléa.

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Minha Fama de Mau começa exatamente nesse momento de auge, com Erasmo contando que não acreditava ter conseguido chegar ao topo. Voltamos, então, para os anos 50 no subúrbio do Rio de Janeiro e conhecemos um cantor adolescente que se mete em  confusões junto a seus amigos. A vida deles muda quando eles ouvem pela primeira vez o rock and roll de Elvis Presley. A partir de então, a turma só quer saber de montar um conjunto de rock e viver de música.

Um dos integrantes do grupo é um gordinho irreverente que entrega marmitas e que é o responsável a ensinar Erasmo a tocar seus primeiros acordes no violão. O ator Vinicius Alexandre rouba a cena atuando com talento ao interpretar o jovem Tião Maia, que odeia o apelido que Erasmo lhe dá: Tim. Essa parte do filme tem um ritmo frenético com narração em off do biografado, com Chay Suede fazendo uma voz bem semelhante a do cantor e falando diretamente com a câmera. Ainda nessa parte, o diretor usa o recurso de transformar algumas passagens em histórias em quadrinhos, o que deixa o público bem envolvido na trama. Um ponto positivo é a utilização de imagens de arquivo da época e boas reproduções de propagandas, o que situa bem a ação.

O quarto de Erasmo é forrado de pôsteres de filmes de faroeste e de seus ídolos do rock. Um deles até ganha vida em sua imaginação para lhe ajudar a compor um de seus primeiros sucessos. Depois da passagem do cantor Bill Halley pelo Rio de Janeiro, Erasmo se convence de que precisa seguir a carreira musical e, para isso, arruma um emprego como assistente de Carlos Imperial, que tinha um dos pioneiros programas de rádio sobre rock no país. O produtor foi uma figura quase mitológica dentro do cenário da música brasileira: ele foi o responsável por lançar muitos cantores jovens e fazer qualquer tipo de malandragem para ficar em evidência. O ator Bruno de Luca até tenta, mas é difícil dar vida a uma figura tão marcante.

Foto: Divulgação

Por causa de Imperial, Erasmo vai conhecer Roberto Carlos e Wanderléa. Roberto e Erasmo vão ter uma empatia logo de cara, fazendo com que os dois se tornem parceiros musicais, enquanto ainda estão tentando subir os degraus para o sucesso, que, quando chega, somos transportados para um tempo em que a música que eles faziam ditou as paradas e os costumes da juventude brasileira, com roupas, acessórios, revistas, produtos de todos tipos possíveis baseados no trio que comandava a Jovem Guarda. Mais um acerto do filme é mostrar esse marketing todo com imagens originais dos cantores ilustrando as revistas e comerciais.

Como nem tudo é para sempre, o programa chega ao fim e Erasmo se vê perdido entre as mudanças do fim dos anos 60, e acaba enfrentando um período de ostracismo e depressão que atingem em cheio sua carreira. Nesse momento, falta um pouco de profundidade na interpretação de Chay Suede, que vinha muito bem fazendo o Erasmo boa pinta e audacioso da primeira fase, mas como esse trecho ruim não é muito grande no longa, isso acaba não prejudicando o conjunto todo. O elenco, aliás, está bem escalado, com destaque para Isabela Garcia fazendo a mãe de Erasmo e Bianca Comparato, que faz todas as personagens femininas que tem interesse romântico em Erasmo, cada uma representando uma mulher até chegar em Narinha, que foi o grande amor da vida dele. Malu Rodrigues faz uma Wanderléa atirada e mais ousada do que a imagem de ternurinha que foi construída para a cantora, e Gabriel Leone é o arquétipo do bom moço na pele de Roberto Carlos.

A direção de arte, figurinos e pós produção de Minha Fama de Mau são impecáveis com a recriação de interiores de uma casa humilde dos anos 50 e sua vizinhança, o ambiente dos bastidores das recém-criadas emissoras de televisão no país e os exteriores das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Porém, como não poderia deixar de ser, o elemento mais importante do filme é a música. Os próprios atores regravaram os maiores sucessos de Erasmo, Roberto e Wanderléa, dando um frescor para as gravações dos anos 60, interpretando as músicas com reverência e um toque pessoal que funciona bem e dá vontade de cantar junto dentro do cinema.

Foto: Divulgação

Diferente do que acontece na maioria dos filmes, as músicas nas apresentações de palco são mostradas de forma integral, empolgando não só a plateia dentro do filme como no cinema. Quando o longa termina, dá vontade de fazer uma playlist com as canções e ficar escutando, e também de ver uma boa cinebiografia das outras metades do trio: Wanderléa e Roberto.

Minha Fama de Mau estreia quinta na próxima quinta-feira, 14/02,  e foca muito bem na parte musical da carreira de Erasmo, com raros momentos melodramáticos, garantindo que os jovens que não conhecem possam “descobrir” esse artista e seu repertório, e ainda poder levar os avós e pais ao cinema para relembrar o ambiente e o rock despojado dos anos 60.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Minha Fama de Mau
Direção: Lui Farias
Elenco: Chay Suede, Isabela Garcia, Gabriel Leone
Distribuição: Downtown/Paris
Data de estreia: qui, 14/02/19
País: Brasil
Gênero: biografia
Ano de produção: 2016
Classificação: 12 anos

Renata Teófilo

Nascida no dia do Natal, a paulista Renata Teófilo se formou em Rádio & TV na Universidade São Judas e é uma apaixonada por Cinema.
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