Mulheres Armadas, Homens na Lata

CRÍTICA | ‘Mulheres Armadas, Homens na Lata’

Amanda Firmino

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9 de agosto de 2019

Mulheres Armadas, Homens na Lata (Rebelles) é um filme polêmico. Por um lado, ele vai na direção contrária do empoderamento feminino da forma como estamos acostumados. Afinal, nenhuma delas é dona de uma moral inabalável, dotada de uma grande consciência social ou idealizada da forma glamourosa como é de praxe. Em resumo: elas não são heroínas. E, na verdade, não precisam ser. Há um certo problema nesse endeusamento excessivo pela mídia, porque afasta a mulher que não atende a certos padrões das discussões feministas ou cria a ideia de que para ser feminista, precisa ter uma certa idade, um certo tipo de corpo, se posicionar de certa maneira sobre certos assuntos, ter um certo histórico e fazer tudo certo. A maioria das pessoas não é assim e, no fim das contas, muitas mulheres são excluídas do movimento ou não conseguem se ver inseridas dentro dele.

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Mulheres fortes, mas previsíveis

Então, é bom ver um filme que mostra mulheres fortes que se permitem não ser perfeitas e que são empoderadas mesmo assim. É claro que muita gente se incomoda com esse tipo de premissa, o que resulta em um longa do tipo ame ou odeie. A produção é, na realidade, uma fábula e resgata a ideia de uma comédia com personagens alegóricos que representam tipos sociais. E é aqui que muita gente pode desgostar do roteiro, que ao se prender a essa premissa, perde a oportunidade de aprofundar as três personagens principais enquanto seres humanos, de carne e osso.

Se por um lado, fica fácil reconhecer pela caricatura os grupos que estão sendo representados de forma quase imediata, por outro, fica fácil prever suas ações e respostas ao longo da trama. Há uma tentativa de reparar isso através do humor insólito, que recorre a situações extremamente inusitadas para “camuflar” a previsibilidade do texto. E nisso a história se perde um pouco. O exagero e a bizarrice funciona por um tempo. Contudo, não tapa o buraco deixado pela recusa do diretor e roteirista em humanizar as personagens, bem como se desviar da sua premissa. Que fique claro que isso diz respeito às mulheres, e não aos homens que são deliberadamente retratados em seu pior. Como foi dito, o filme é uma espécie de fábula e o antagonista não é um homem específico, mas o machismo arraigado na sociedade.

Mulheres Armadas, Homens na Lata (1)

Filme não atinge seu potencial

Contudo, Mulheres Armadas, Homens na Lata não atinge o seu potencial pleno. Em primeiro lugar, boa parte da trama gira em torno de Sandra. Ela foi vítima de uma tentativa de estupro que mata por acidente o agressor, seu chefe abusivo. Embora as atrizes que interpretam Nadine e Marilyn façam um ótimo trabalho, respectivamente pela sua expressividade e linguagem corporal, bem como pela capacidade de emplacar frases de efeito, suas personagens acabam sendo colocadas em segundo plano em alguns momentos. Das três, é a ex-miss (e consequentemente, a mais “padronizada”) quem recebe o holofote, numa oportunidade perdida.

A violência parece gratuita em alguns momentos. Ela desvia o foco dos assuntos sociais relevantes que fazem parte da trama e são abordados apenas de forma muito superficial. Por fim, o fato da protagonista ser a mais extravagante do trio e, por conta disso, atrair a atenção do seu chefe se apoia em um conceito problemático, reforçando a ideia de que a roupa que se usa pode, em algum nível, aumentar as chances de que uma agressão venha a ocorrer.

Mulheres Armadas, Homens na Lata (2)

Nem gregos, nem troianos

Enfim, Mulheres Armadas, Homens na Lata é relevante por associar tipos que usualmente são deixados de fora da mídia da causa feminista. Assim como também por desconstruir a ideia de que, para reivindicar qualquer direito, é necessário ser uma super-mulher. Sem erros ou defeitos. Em seu melhor, serve como uma porta de entrada ou uma referência para que outros roteiristas e cineastas façam o mesmo.

Entretanto, fica no meio do caminho. Não aprofunda muito e acaba se tornando meio repetitivo depois do começo. Provavelmente não irá agradar nem o público mais conservador, nem as pessoas mais engajadas em movimentos sociais, que podem se sentir incomodadas com alguns aspectos do roteiro. Além disso, ficarão frustradas com a oportunidade perdida.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Rebelles
Direção: Allan Mauduit
Roteiro: Allan Mauduit, Jeremie Guez
Elenco: Cécile de France, Audrey Lamy, Yolande Moreau
Distribuição: Imovision
Data de estreia: qui, 08/08/19
País: França
Gênero: comédia
Ano de produção: 2019
Duração: 87 minutos
Classificação: 16 anos

Amanda Firmino

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