CRÍTICA | ‘Raiva’ aborda a dualidade entre poder e pobreza

Giovanna Landucci

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24 de outubro de 2018

Raiva (Rage) é um longa-metragem de origem portuguesa que, este ano, ganhou duas consagrações de melhor filme no Festival de Moscovo com o prêmio da Federação de Cineclubes da Rússia e com o prêmio do jornal Kommersant. Sérgio Tréfaut voltou ao Festival Indie Lisboa com essa película, onde, em 2014, já havia sido destacado com “Alentejo, Alentejo”  e, em 2004, com “Lisboetas”, tornando-o um respeitado diretor da cinematografia lusitana.

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O filme é circular, ou seja, sua trama se inicia pelo que deveria ser a cena final e, a partir daí, volta ao princípio para começar a explicar tudo que ocorreu até o seu ápice. O diretor – que dedica o trabalho à memória do pai – traz um tema dramático e uma coprodução entre Portugal, Brasil e França. Nos créditos, o cineasta também agradece à comunidade Alentejana por participarem do longa. Essa película traz uma história comovente que gera empatia pela família que passa por fome e privações enquanto há o contraste de uma outra família rica onde um dos personagens foi demitido, prestava serviços na fazenda deste rico senhor. A produção baseia-se no livro “Seara de Vento”, de Manuel da Fonseca, e conta uma história de rixas familiares como as de Capuletos e Montéquios em “Romeu e Julieta”, porém sem o romance. Considerada uma das obras mais importantes da literatura neorrealista portuguesa, o longa traz no drama de sua história as diferenças sociais entre quem trabalha e quem possui as terras, e foca em uma família cercada por uma injustiça cometida por um ódio reprimido.

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Nos remotos campos do Baixo Alentejo, no sul de Portugal, a miséria e a fome assolam a população. Duas violentas mortes ocorrem em uma só noite, e assim, um mistério acaba tomando conta do lugar: qual a origem desses assassinatos, porque teriam sido arquitetados? O provedor da família, Antonio, conhecido por Palma na cidade, carrega rancor por este homem e diz que o senhor Elias Sobral roubou suas terras e que foi demitido sem motivos. Mas este não se importa com o que o ex-empregado diz e só responde com deboche e desprezo. No desespero de ver a família passando necessidades, Palma resolve aceitar um conselho de um colega e partir para um trabalho clandestino e aceita prestar serviços como contrabandista, mas pela fome não consegue de primeiro momento atravessar a fronteira. Já que são horas de caminhada, tem que nadar em um rio para chegar ao outro lado carregando tudo nas costas. Ao começar a receber os pagamentos, consegue comprar alguma comida para abastecer a casa. Nestas cenas vemos o típico pão alentejano ser repartido entre a família. A partir daí, acontecem prisões com abuso de poder, perseguições devido ao trabalho clandestino, e Julia, esposa de Palma, é chantageada.

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Foto: Pandora Filmes / Divulgação

Raiva é um longa que trata sobre poder e pobreza, sobre todas essas dualidades, sobre o desespero que a miséria atrai e resgata a cultura dos anos 50 retratados através de um filme em preto e branco, com músicas folclóricas locais como o Fado. Resta ao espectador entender o que de fato ocorreu e fazer a amarração do começo com o final da trama. Confira os horários de exibição da obra na Mostra de SP.

*Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Raiva/Rage
Direção: Sérgio Tréfaut
Elenco: Leonor Silveira, Sergi López, Adriano Luz
Distribuição: Pandora Filmes
Data de estreia: qui, 06/12/18
País: Portugal, Brasil, França
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 84 minutos
Classificação: 12 anos

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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