Amadeu Alban Miúda e o Guarda-Chuva Foto WalissonSantos

Anima Mundi | Entrevistamos o diretor de ‘Miúda e o Guarda-Chuva’

Alvaro Tallarico

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18 de julho de 2019

Foto: Walisson Santos

Após a estreia de “Miúda e o Guarda-Chuva” – filme extremamente poético e esteticamente estiloso – no Anima Mundi, conversamos com o diretor Amadeu Alban, que também é roteirista, produtor e sócio-diretor criativo da Movioca Content House. Com 40 anos, seu currículo já conta com 2 webséries, 14 curtas, 6 médias e 8 longas, premiados em mais de 40 festivais no Brasil e exterior. Junto com Paula Lice, é criador do formato original Drag Me as a Queen, sucesso na TV Fechada do Brasil e América Latina pelo E! Entertainment Television.

Após a exibição, conversamos com o cineasta. Num bate-papo agradável, Amadeu contou ao nosso repórter Alvaro Tallarico como surgiu a ideia para a obra, bem como o desenvolvimento do filme e, claro, falou sobre o festival de animação. Confira:

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BLAH!ZINGA: De onde surgiu a ideia da personagem Miúda e dessa planta de estimação tão exótica? Tem a ver com o filme ‘A Pequena Loja de Horrores’?

Amadeus Alban: Tem algumas inspirações. A autora Paula Alice escreveu a primeira célula de “Miúda e o Guarda-Chuva”, um conto. Então convidou Igor, o diretor de arte, para ilustrar. Sendo que o Igor estava em reunião comigo sobre o cenário de um filme. Acabamos unindo tudo para fazer uma animação. Possui inspirações em Snoopy, o Pequeno Príncipe. “A Pequena Loja de Horrores”, certamente, também foi uma referência para gente. Mas é tudo uma metáfora de uma relação impossível que se constrói: uma criança e uma planta que fala. Uma planta carnívora que depende dela para se alimentar, pois não tem pernas, mãos, nem olhos. Tem muito de Snoopy por ter sido uma animação muito filosófica e existencialista que permeou nossa infância. Miúda tem esse tom de fala, pergunta.

BLAH!ZINGA: O filme tem essa toada poética filosófica. Animação é, de fato, uma ferramenta lúdica. Após assistir, fiquei com uma dúvida, a qual paira no filme: a vida tem perspectiva ou não?

AA: Hahaha! Tudo é uma questão de perspectiva. Tem quem enxergue e tem quem não enxergue perspectiva na vida. Mas acho que essa é a provocação do filme: aprender a fazer as escolhas, inclusive como você vai nutrir suas relações. Miúda passa o filme inteiro alimentando a planta com formigas e depois vê que a mesma está crescendo, assim como ela. Assim vai aprendendo a fazer escolhas, evitando a relação de dependência. Colocando isso para todas as relações que conhecemos, acredito que o mundo ganha outras perspectivas e podemos esperar algo do futuro. Quando construímos relações que não são bacanas, encurtamos as perspectivas.

Amadeu Alban no Anima Mundi (Foto: Narda Gracine)

Amadeu Alban no Anima Mundi (Foto: Narda Gracine)

BLAH!ZINGA: Você faz alguma comparação da situação das formigas com o momento político que vivemos? O filme tem esse objetivo?

AA: O filme começou em 2010, em outra vibe. Dentro das formigas temos dois personagens: um que enxerga poesia na vida e outro mais fatalista. E isso se encaixa em todos os momentos, já que vivemos ciclos. Quantas vezes o Brasil já esteve na fossa? Tenho 40 anos, então vivi muitos momentos. Na minha infância, por exemplo, havia menor perspectiva, depois vivemos uma onda de pujança, com muita perspectiva e agora outro momento diferente. Se olharmos as coisas somente da posição da curva histórica na qual estivermos, teremos sempre uma visão encurtada do que tem pela frente. Estando no ponto mais baixo da perspectiva. Não vemos o mesmo que do ponto mais alto, contudo, já vimos algo lá na frente, quando estávamos lá. Então, há de se dar tempo ao tempo. Vamos esperar Miúda fazer 18 anos… Hahaha!

BLAH!ZINGA: A ideia do filme é otimista, como a sua também está sendo.

AA: Sou uma figura otimista por natureza, e as pessoas da equipe também. Acho que quando propomos uma coisa, depende da perspectiva que enxergamos. Mesmo caso estejamos vendo algo que pareça não ser muito positivo, vamos ter esperança, pois não nos resta outra coisa. Prefiro não acreditar que isso é determinante. Temos sempre que acreditar que algo melhor virá. Tomando as ações necessárias para a mudança. Continuar prestigiando nosso cinema, apoiando crowdfunding, como esse que possibilitou o Anima Mundi desse ano. Pequenas atitudes. As pequenas escolhas do dia a dia contribuem para um mundo melhor. Não vamos escolher jogar lixo na rua, furar fila, querer levar vantagem em tudo. Escolhas que não estão no macro.

BLAH!ZINGA: Vi que há planos para várias plataformas diferentes com relação aos personagens, como jogos.

AA: Temos o Victor, um dos co-diretores e roteirista do filme, que é mestre em narrativas para games. Estamos em busca de financiamento para lançar um game junto com o longa, quando entrar no circuito comercial, no ano que vem. Também temos um projeto de websérie. Estamos correndo atrás dos financiamentos, recursos para viabilizar. Acreditamos que vai dar tempo. E as crianças consomem essas plataformas todas. É bacana que possibilitemos outras formas de explorarem o conteúdo de Miúda.

A saber, “Miúda e o Guarda-Chuva” está em cartaz no Anima Mundi, tanto no RJ quanto em SP. Na capital fluminense, a animação será exibida ainda no dia 20/07, no CCBB, às 11 horas. Por outro lado, em São Paulo, o longa-metragem estreia em 26 de julho, no Cine Belas Artes, às 16 horas. O filme será exibido novamente em 27/07, no Instituto Moreira Salles, às 15h30. Confira a programação completa do evento nas duas cidades:

RJ: https://animamundi2019.com.br/wp-content/uploads/2019/07/livreto_anima2019_rj_1607_site_spread_ok.pdf
SP: https://animamundi2019.com.br/wp-content/uploads/2019/07/livreto_anima2019_sp_1607_site_spread_ok.pdf

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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