Ferro Velho
Danielle Meniche
|19 de março de 2015
Quando eu era criança visitava o ferro velho com meu pai. Uma menina pequena no meio daquele paraíso da bagunça.
Ursinhos de pelúcia sem nariz, cacos de vidro, latas de cerveja, televisor de tubo, bicicleta sem rodas, embalagens de Tetrapak, forno micro-ondas enferrujado, torradeira queimada, caixas de som rasgadas, fitas de vídeo mofadas, livros manchados pelo tempo, caçambas cheias das tralhas antigas esquecidas pela memória de alguém, cada objeto trazia uma parte da vida, histórias mal contadas, brigas de bar, sapatos cambaleantes…
Aqueles homens acostumados a levar o mundo nas costas olhavam para mim com ternura e curiosidade. Pisava com cuidado para não correr o risco de tropeçar e cair sobre pregos, porcas e parafusos. Tentava subir na pilha retorcida no centro do ferro velho e ver a cidade como os adultos viam, em escalas de cinza. Sabia que precisava conhecer um pouco de tudo, sem ter medo de sujar as mãos com a poeira do passado. Eu andava por lá e me encontrava.
Hoje, adulta, não entro mais em nesse mundo paralelo. A moda agora é comprar objetos vintage em shopping centers.