Fúria Incontrolável amazon prime video filme crítica

‘Fúria Incontrolável’ (Amazon) se perde no exagero

Lohan Lage Pignone

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20 de maio de 2021

O que causa estresse em seu dia a dia? 

Uma pergunta difícil de ser respondida, não? E ao mesmo tempo tão repleta de respostas. O estresse, somado à ansiedade, são considerados os maiores vilões dos nossos tempos. Um combo desses malefícios, incluindo cansaço mental, geralmente acarreta em depressão. Daí você deve estar se perguntando agora: será que estou no site certo? Pensei que fosse ler a crítica de um filme.
Relaxe: você está no lugar certo sim. O filme Fúria Incontrolável (Unhinged), dirigido por Derrick Borte (London Town) e um dos mais recentes sucessos do catálogo do Amazon Prime Video vai direto ao ponto supracitado no começo deste texto. E vai além: apresenta esse espectro sob um ponto de vista coletivo. O que o estresse causado pelo coletivo pode gerar de consequências ao coletivo? Borte exibe a mesma sociedade que adoece e que cura. Ou que pelo menos deseja curar.

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‘O homem é o lobo do homem’

Há uma frase de Thomas Hobbes, filósofo inglês, que diz “o homem é o lobo do homem”. Partindo dessa premissa individual pode-se dizer, analogamente, que a sociedade é o lobo da sociedade. E quando devoramos a nossa própria consciência, não há volta. Russell Crowe (Gladiador) dá vida a um personagem que abarca esse conceito. Já em uma das cenas iniciais, este homem (cujo nome permanece desconhecido) já dá as cartas da trama e despeja toda sua fúria e brutalidade na tela.
Vale mencionar que, antes dessa cena acontecer, o diretor exibe imagens de um macro social conturbado, poluído de engarrafamentos, poluição do ar, poluição sonora, violência de todo tipo, tumultos… e uma estação de rádio noticiando toda a desgraça tão corriqueira. Essa ponte social é o que justifica, de um modo predominante, o nascimento da fera no coração desse homem desconhecido, cujas raízes e história são mal desenvolvidas ao longo do thriller.
Proposital? Talvez. Quem nós conhecemos, de fato? Em uma multidão, no meio da rua, quem você é capaz de definir como bom, mau, generoso, paciente? O semblante de um indivíduo seria o bastante? Uma única ação dele seria?
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‘O Estrangeiro’

Isso me remete ao poema “O Estrangeiro”, do poeta francês Charles Baudelaire. É perguntado ao homem: quem tu amas? Ama tua família? Amigos? Tua pátria, a beleza, o ouro? E nada de positivo é extraído desse homem até que ele responde, por fim, que ama as nuvens que passam lá longe. Assim, Russell personifica esse estrangeiro do mundo e si próprio; um homem que não se importa com nada e nem ninguém, ou melhor dizendo, um homem que anseia viver livre feito uma nuvem, no entanto, uma nuvem carregada de ódio e desejo de vingança por supostas injustiças e desamores sofridos no passado.
Aliás, o problema da trama reside justamente nessa linha tênue entre o real e o over que extrapola os limites desse mundo inconfundível. A realidade chega a soar surreal? OK, mas construir um roteiro em cima dessa premissa não significa abrir mão do que chamamos de coerência.
Quando esse “estrangeiro” assassina, em doses homeopáticas, um homem dentro de um café repleto de pessoas, essa coerência se esvai. O absurdo dessa cena não é compatível com o nível do absurdo que outrora se estabeleceu no roteiro. Então, o “estrangeiro” que inicia uma perseguição desenfreada e violenta a uma moça, Rachel (Caren Pistorius), somente devido a um entrevero no trânsito, passa a assumir um modo aleatório que não se faz percebido por ninguém, tampouco pela polícia.
Assim, Russell tenta abraçar essa nuance quase indefinível do personagem, sem uma base biográfica contundente, e beira o caricatural. Por outro lado, Caren Pistorius defende muito bem a sua personagem – também atormentada pelo macro social (engarrafamento, boletos para pagar, burocracias do divórcio, etc.) e ainda pela voracidade de um lobo estrangeiro que calca todas as suas vilanias hiperbólicas numa simples ausência de um pedido de desculpas.
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Reflexão crítico-social

O plot da trama de Fúria Incontrolável, do Amazon Prime Video, é demasiado interessante e de muita relevância sob o viés de discussão e reflexão crítico-social. Até que ponto nos consumimos e consumimos aos outros nessa selva de pedras e buzinas e fumaças e balas perdidas? Até que ponto uma faísca pode incendiar toda a nossa vida? Entretanto, a trama abre mão de uma pegada mais psicológica e opta, de maneira abusiva, pelo sanguinário e pelo exagero que não consegue sequer se enquadrar como trash, uma vez que a proposta inicial se dilui e se perde em uma definição mais adequada.
Enfim, retomando a pergunta que inaugura esse texto: o que causa estresse no seu dia a dia? Esperamos que, seja lá o que for, não seja a razão de uma avalanche de violência e que sua consciência não seja trucidada pelo seu próprio lobo. Busque domesticá-lo e vivamos em paz, na medida do impossível.
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TRAILER DO FILME ‘FÚRIA INCONTROLÁVEL’ (AMAZON)

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FICHA TÉCNICA

Título original do filme: The Unholy
Direção: Derrick Borte
Roteiro: Carl Ellsworth
Elenco: Russell Crowe, Caren Pistorius, Gabriel Bateman
Onde assistir ao filme ‘Fúria Incontrolável’: Amazon Prime Video
País: Estados Unidos
Gênero: suspense
Ano de produção: 2020
Duração: 90 minutos
Classificação: 16 anos

Lohan Lage Pignone

Lohan Lage Pignone, 31, é nascido no Rio de Janeiro (RJ) e atualmente reside em Nova Friburgo (RJ). Graduado em Letras (Port./Lit.) pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduado em Roteiro para Cinema e TV, pela UVA. Publicou, em 2011, o livro “Poesia é Isso” (Ed. Multifoco). Assinou o roteiro e dirigiu o documentário em curta-metragem “Terra Nova, Friburgo”. Formou-se em Direção (Cinema) pela AIC.
6
Créditos Galáticos

Créditos Galáticos: 6

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