Pecados Antigos, Longas Sombras | Ditadura, democracia e assassinato

Antes de mais nada, estamos carecas de saber que muitos filmes que foram sucesso de crítica infelizmente passam despercebidos pelo grande público. Mas, quando uma bela obra é completamente ignorada por ambos, aí sim temos um fenômeno inexplicável. Um que se encaixa nesse estranho padrão é ‘Pecados Antigos, Longas Sombras’ (La Isla Minima, 2014), de Alberto Rodríguez.

Talvez o fato de abordar um período histórico espanhol (a saber, a transição da ditadura para a democracia) sem ser didático, seja a razão do fracasso de Pecados Antigos, Longas Sombras. Uma pena, pois essa é justamente uma das melhores qualidades do filme. Permitindo, assim, que o espectador se identifique com os personagens e caso tenha vivido em um país que sofreu do mesmo mal, consiga traçar um paralelo com essa mesma situação vivida pelos espanhóis.

• Mostra de SP 2020 divulga mais votados da Competição Novos Diretores
• ‘Amor com Data Marcada’, da Netflix, vai além de uma comédia romântica
• Cartoon Network apresenta ‘Ursos sem Curso – O Filme’

Sinopse

Em uma cidade minúscula e esquecida no sul da Espanha, uma onda de crimes brutais contra mulheres jovens choca a região. A polícia escala dois detetives para investigar as mortes, apesar de suas personalidades conflitantes. O veterano Juan Robles (Javier Gutiérrez), que, acima de tudo, é um entusiasta da ditadura e fã dos ‘velhos hábitos’ de investigação, bem como os de interrogação e o jovem Pedro Suárez (Raúl Arévalo). Este último, a saber, defensor da democracia e com uma nova visão para a polícia, acaba castigado, indo para essa cidade desolada com o seu antagônico parceiro.

Nesse ínterim, eles precisam lidar com os problemas da região. Um lugar tomado pela intolerância, ignorância, misoginia, machista e patriarcal. Dessa forma, precisam deixar as diferenças de lado para caçar o serial killer que aterroriza os moradores locais.

Fotografia

Um dos grandes destaques de Pecados Antigos, Longas Sombras  é a belíssima fotografia de Álex Catalán. O trabalho do diretor é espetacular, captando lindas paisagens de um lugar, a princípio, horrível e desolador. Porém, suas imagens captam a bela paisagem local, seja em cenas ensolaradas, bem como as chuvosas. Com tomadas longas, ótimas cenas vistas de cima, ele consegue mostrar toda a beleza esquecida da cidade. Um primor.

Serial Killer

Pecados Antigos, Longas Sombras é muito mais do que um filme policial sobre serial killer. A história e investigação em si a princípio é muito boa, mas, a relação entre Juan e Pedro e o fundo político da trama é que eleva o filme a um patamar muito mais elevado. Ela não precisa ser apelativa ou forçada para mostrar a crueldade da ditatura e a beleza da democracia.

Mas, antes de tudo, ela não é binária como em praticamente tudo que vemos em política hoje em dia. Ela consegue ver beleza em um personagem que, a princípio, seria nefasto. Bem como enxerga alguns pontos escuros na personalidade do democrata. Não existe ninguém totalmente bom ou mau, nem tudo é branco ou preto. Em outras palavras, personalidades têm mais de um lado e ambos têm tons de cinza em suas vidas.

Por fim, é importante ressaltar que Pecados Antigos, Longas Sombras é um filme muito premiado, apesar de completamente ignorado. Vencedor das principais categorias do Premio Goya (o oscar espanhol), bem como algumas premiações europeias. Pecados Antigos, Longas Sombras é, antes de mais nada, um filme imperdível.

Pecados Antigos, Longas Sombras

Ficha técnica

Título original: La Isla Minima
Estreia: 26 de setembro de 2014
Direção: Alberto Rodriguez
Elenco: Raúl Arévalo, Javier Gutiérrez, Antonio de la Torre, Nerea Barros, Jesús Castro, Manolo Solo, Jesús Carroza
Gênero: Policial, drama
Duração: 104 minutos
País de origem: Espanha
Idioma: Espanhol
Indicação Etária: a partir de 14 anos
Onde assistir: Amazon Prime