‘Matrix’, sua filosofia e complexidade além das telas
Matheus Soares
|22 de setembro de 2021
Quando falamos de clássico de cinema, não podemos deixar de fora Matrix e toda a sua filosofia por trás do filme. O longa original, para ser específico, foi uma revolução dos cinemas. Seus efeitos especiais surpreenderam todos, bem como trouxe uma trama filosófica, digna de fazer Platão levantar do túmulo e aplaudir.
Além da trama e dos efeitos, podemos notar a construção do gênero antes dele chegar aos cinemas. Para os fãs de Matrix e de literatura, Neuromancer, de William Gibson, é a pauta perfeita para você encontrar o esqueleto perfeito de toda cultura cyberpunk e a origem do termo “MATRIX” na arte pop.
Sinopse de Matrix
O primeiro Matrix tem como foco o despertar de Neo, que é dito como o escolhido, O FODA, o que te bate e é você quem pede desculpas. O personagem, como é conhecido no submundo da internet, é um hacker durante a noite e que ao dia trabalha no setor de T.I de uma megacorporação. Ele mesmo começa a suspeitar de algo errado até que começa a receber mensagens sobre a Matrix, que acaba o levando até Trinity e, por conseguinte, a Morpheus.
É quando Neo conhece Morpheus que acontece a icônica cena que o antagonista pergunta se ele quer tomar a pílula azul ou vermelha. A primeira fará com que ele retorne ao seu mundo de sonhos e esquecerá tudo aquilo. Por outro lado, a segunda o fará descobrir toda verdade.
Dilema semelhante proposto em 1974 pelo filósofo norte-americano Robert Nozick. Se oferecida uma “máquina de experiência” capaz de realizar experiências que desejamos, de maneira indistinguível das reais, a preferência seria a realidade verdadeira? Ou podemos nos sentir livres para viver dentro de uma ilusão confortável?
Referência filosófica no Universo Matrix
Matrix é pura filosofia, muito mais que um filme bem-feito, com uma boa trama. É um bolo com todo tipo de recheio, sendo cada camada com um sabor diferente. Cada personagem é uma porção de complexidade e referências. Algumas são fáceis, mas outras exigem um pouco mais de percepção.
Podemos começar por nosso protagonista, Neo. Seu nome é claramente um anagrama para palavra ONE, como o primeiro, o escolhido. Aliás, podemos ver também uma clara alusão à figura de Jesus Cristo, como salvador. Além dessas motivações, ainda tem a cidade de Zion, que possui um significado bíblico, sendo claramente explorada nesse sentido no filme como a “terra prometida”.
Aproveitando essa pegada bíblica, a parceira do nosso amado Neo se chama Trinity, que podemos entender como uma alusão à santa trindade cristã. Ou seja: “Pai, filho e espírito santo”.
Seguindo no mundo metafísico, temos Morpheus, uma das mais claras referências do filme. O deus sonho, o cara que pode aparecer para mostrar alguma mensagem ou só para se divertir nos sonhos.
Filosofia de Matrix traz Platão, Baudrillard e Kant
Além disso, como citado anteriormente, a filosofia de Platão é uma grande referência em Matrix. Afinal, traz a experiência sugerido pelo filósofo, onde imaginamos a condição humana como um grupo de prisioneiros que viveram suas vidas no subterrâneo e algemados, de modo que a realidade é limitada a sombras projetadas na caverna. O pensador, então, sugere que um prisioneiro libertado ficaria surpreso ao descobrir a verdade sobre a realidade e atordoado pelo brilho do sol. Se voltasse ao subterrâneo, os companheiros não entenderiam o que ele experimentou e o achariam louco.
No filme, ao contrário do prisioneiro de Platão, o mundo que aguarda Neo é ao mesmo tempo desolador e aterrorizante. O filme ainda apresenta conexão com questões filosóficas mais recentes, como as levantadas pelo francês René Descartes, do século 17, que notou a dificuldade de termos certeza que a experiência humana não é o resultado de um sonho ou de um engano sistemático malévolo.
Mas não para por aí. O filósofo francês do final do século 20 Jean Baudrillard, cujo livro aparece no início de Matrix, escreveu sobre imitações sofisticadas da realidade que se tornam tão realistas que são confundidas com a própria realidade. Em alguns aspectos, o em alguns aspectos, o filme também alcança uma visão próxima à do pensador alemão Immanuel Kant, que insistiu que a realidade está em conformidade com nossa percepção e que nós experimentamos o mundo pelo espectro parcial de nossos sentidos.
Por que 1999 em Matrix?
É dito ao longo do filme que a Matrix simula o mais alto desenvolvimento do ser humano, e em 1999, estávamos em uma escalada tecnológica, com computadores e celulares. Além disso, o lançamento do filme foi feito nesse ano. Entretanto, o ano dentro da Matrix não muda, vive em loop. Para alguns mais, isso pode representar algo mais profundo, como o fim do livro O fim da História e o Último Homem, de Francis Fukuyama, visto que o cientista politico argumentava que o advento da democracia liberal ocidental seria o ponto final da evolução sociocultural humana e a forma final do governo humano.
As irmãs Wachowski conseguiram capturar de forma perfeita o tempo em que elas viviam, retratar o início de uma era tecnológica, questionamentos ideológicos e políticos, assim como o início de uma nova era ou uma período que se perpetuaria com o fim da história. Portanto, Matrix é sim filosofia pura.
Data de estreia de Matrix 4
Se não houver nenhum novo adiamento por causa da pandemia, The Matrix 4: Resurrections tem previsão de estreia nos cinemas para 22 de dezembro de 2021. O trailer foi divulgado recentemente e você pode assisti-lo AQUI.
Onde e como assistir aos filmes de Matrix?
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Tem Matrix na Netflix?
Curiosamente, mesmo com a estreia da HBO Max, os três filmes anteriores também estão disponíveis na Netflix. Não se sabe até quando, já que os direitos são da Warner Bros. Pictures.
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Matheus Soares
Math, para os chegados, historiador e escritor (pelo menos tenta). Quadrinhos, livros e filmes são sua paixão, mas passa longe de ser "cult" ou "cinéfilo". Todos saúdem a Matrix!
