‘O Preço da Verdade’ | CRÍTICA

É interessante observar o que O Preço da Verdade (Dark Waters) representa na carreira do diretor Todd Haynes. Depois de vir numa sequência de grandes filmes que exploravam sentimentalismos nas relações humanas, como o belo Sem Fôlego (2017); bem como o romântico Carol (2015); e ainda com seu ápice Não Estou Lá (2007), ele vem com uma obra genérica, mas interessante.

É como se ele tivesse recebido esse roteiro por imposição do estúdio e faltou colocar sua carga emocional peculiar por não ser um projeto íntimo.

A trama

Aqui, temos um advogado que se insere em um meio corporativo, mas retoma suas raízes no direito ambiental para investigar um caso de poluição nas águas de uma cidade do interior dos Estados Unidos. Nessa jornada adaptada de um artigo do New York Times, o advogado vai fazendo descobertas assustadoras sobre como poder, corrupção e poluição não estão ligando a mínima para os demais.

Roteiro conciso

O tema não é novidade. Filmes de direito existem a balde no cinema e, no microcosmo da advocacia associada a lutas políticas da natureza, já temos o excelente Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento (2000), de Steven Soderbergh.

Entretanto, O Preço da Verdade traz algo novo: o roteiro, em que, apesar de faltar conexão entre as palavras dos roteiristas com o coração do diretor, ainda é bem escrito.

De fato, não é tão maniqueísta quanto parece e nem desvia do foco um só minuto, pois não há tempo para dispersões frente a tanta informação que é bombardeada a cada cinco minutos para nos segurar na narrativa.

Se tiver algum defeito, apontaria a falta de camadas dos personagens, que aparecem sem pano de fundo, talvez porque o fundamental mesmo é explorar os absurdos corporativos que, de tão horríveis, parecem ficção.

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Mark Ruffalo: um primor de atuação

Quem vive Robert Billot, protagonista dessa narrativa, é Mark Ruffalo, rosto bastante conhecido pelo Universo Cinematográfico da Marvel como o super-herói Hulk. Chega a dar arrepios olhá-lo em tela, tanto pelo reconhecimento de seu talento, que na última década recebeu louvor apenas por personagens coadjuvantes (valendo ressaltar Spotlight: Segredos Revelados e Minhas Mães e Meu Pai), quanto por ser palpável a sua força de guiar e sustentar o filme por conta própria.

Se desde 2014 ele não tinha um protagonismo, agora ele consegue se provar um ator digno de mais papeis fortes como esse. Ruffalo merece mais confiança dos diretores de elenco e, se O Preço da Verdade não trouxer palmas para ele, que ao menos venha com a cena em que ele explica para a esposa tudo o que descobriu em sua pesquisa.

Certamente, um exemplo perfeito de montagem, atuação, roteiro e fotografia se unindo para fazer o espectador seguir até o final da história.

Narrativa assombrosa

Por fim, vemos que valeu a pena acompanhar O Preço da Verdade. Apesar de, por vezes, ser formulaico, é uma obra importante com uma narrativa assombrosa sobre os perigos químicos do que ingerimos. E é exatamente por isso que temos um Todd Haynes diferente enquanto diretor.

O emergencial para contar não é o drama dos protagonistas, mas sim a história em si, focando no fato em uma narração crua que, com certeza, impactará muita gente. Em um ano um pouco mais fraco de Oscar, o longa-metragem estaria entre os indicados.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Dark Waters
Direção: Todd Haynes
Elenco: Anne Hathaway, Mark Ruffalo, Bill Pullman
Distribuição: Paris
Data de estreia: qui, 13/02/20
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2019