O Vídeo Show que prestava

Renata Argarate

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17 de janeiro de 2018

Tomou um susto ao ver o título desta matéria? Aposto que sim! Pois é, assim como a “Sessão da Tarde” já valeu o meu tempo, o “Vídeo Show”, aquele programa irritante que passa diariamente nas tardes da Globo, também já prestou. Quando foi criado, em 1983, uma das propostas da atração era, sim, mostrar bastidores da televisão e do cinema; só que essa não era a proposta mais importante do programa. O objetivo principal do “Vídeo Show” era ser um programa cultural – sem ser chato. Trazia reportagens imperdíveis sobre a criação da TV no Brasil, entrevistas com gente que realmente tinha o que dizer (Cazuza, por exemplo, no vídeo abaixo) e as novidades no mundo do cinema (acredite, a primeira vez que eu ouvi falar em Pedro Almodóvar foi no “Vídeo Show”, lá pelo final dos anos 80, se não me engano). As famosas matérias com sequências de erros de gravações dos programas e novelas também já estava lá, mas duravam menos de um minuto.

Inúmeros apresentadores passaram pelo “Vídeo Show”, entre eles Marcelo Tas, que interpretava um personagem exótico chamado Cabeça Branca, não muito diferente do que ele faria anos mais tarde, nos programas infantis da TV Cultura. Porém, o apresentador que foi, para toda uma geração, a “cara” do programa só foi estrear nele em agosto de 1987. Miguel Falabella deu personalidade ao “Vídeo Show”, e trouxe para o programa quadros como “Tricotando” e a voz inconfundível da amiga Cissa Guimarães como narradora das matérias do programa. Miguel, inclusive, se referia a Cissa como “a garota que quebra o coco, mas não arrebenta a sapucaia”.

https://youtu.be/XoRLaokaZPQ

Foi também sob o comando de Falabella que o programa ganhou um dos seus quadros mais famosos: o “Túnel do Tempo” (“Há 25 anos, direto do túnel do tempo…”).

Em 1994, resolveram que o programa passaria a ser diário – e a partir daí, foi ladeira abaixo sem freio. O que antes era o que o próprio nome diz (um show de vídeo) foi transformado em uma versão televisiva da revista Caras, tratando só de atualidades da vida dos artistas da Globo (enaltecendo todos eles, é claro!) e algumas entrevistas bobas de bastidores.

Ao longo desses quase 25 anos, o “Vídeo Show” passeou por diversos horários na grade da emissora, trocou de cenário e de apresentadores, enfim, sofreu um monte de mudanças – nenhuma delas qualitativa. O conteúdo permaneceu a mesma chatice inútil, misturando fofocas do elenco global com matérias que nada mais são do que propagandas de programas que a própria Globo exibe ou está para lançar. Não há uma única preocupação em se contar a história do cinema ou da televisão – quando isso é feito, apenas uns 40 segundos (sem exagero!) são dedicados ao tema. De resto, só vejo coisas tolas ou até mesmo absurdas. Lembro que, na época da novela “Senhora do Destino”, a personagem Nazaré (Renata Sorrah) tinha a mania de destruir travesseiros quando estava nervosa. E o programa fez uma montagem que tentava ser engraçada, mostrando um monte de travesseiros se rebelando contra Nazaré. Como eu não consegui encontrar esta obra-prima no You Tube, fiquem com a Nazaré de verdade, a da novela:

Deixo aqui meu recado para o próximo produtor e/ou diretor que assumir o comando do “Vídeo Show”. Por favor, tente fazer o programa voltar a prestar, a valer o tempo do espectador. Traga de volta a proposta da antiga versão do programa, que, não por acaso, é bem parecida com a proposta deste blog: trazer diversão inteligente, sem ser chato, e de forma popular, sem ser idiota. Nossa televisão (tanto aberta quanto a cabo) precisa disso, e com urgência. Saber que, no meio de uma filmagem, o Tony Ramos começou a rir da cara da Fernanda Torres é, sim, engraçadinho – desde que esse tipo de coisa ocupe, no máximo, trinta segundos de programa. Há muita coisa interessante para tratar – sugiro, por exemplo, uma visita do programa ao Hotel Fazenda Mazzaropi (e não estou ganhando um tostão para isso!), mostrando a propriedade onde o grande artista brasileiro fez vários de seus filmes. Sugiro também entrevistas com lendas da nossa comunicação, como Washington Olivetto, e matérias de 1 a 2 minutos (ou até mais) sobre alguns dos incontáveis artistas novos (e de qualidade, pelo amor de Deus!) que estão surgindo na Internet. Idéias de reportagens não faltam. Desculpas para não fazer um programa de qualidade são, para mim, só isso – meras desculpas.

Enfim, o “Vídeo Show” serve como um excelente termômetro de como a cultura do nosso país andou para trás nos últimos 34 anos. Na verdade, a cultura mundial vem empobrecendo. Mas nós, aqui no Brasil, não precisamos ser iguais ao resto do mundo. E antes que me perguntem “Você acha que um programa de TV vai mudar isso?”, eu já digo que, se cada um fizer a sua parte para tornar o nosso país mais inteligente, a diferença vai ser grande, sim.

Já vi muita gente comentar comigo que sente saudades do “Vídeo Show Que Prestava”, e que não suporta o “Vídeo Show” atual. Quando o “Vídeo Show” voltar a ser o “Vídeo Show Que Prestava”, muita gente vai voltar a assistir ao programa. E os índices de audiência voltarão a subir. Parece complicado? Mas é simples assim.

FONTES

https://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADdeo_Show

https://gshow.globo.com/programas/video-show/

Renata Argarate

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