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‘Peterloo’ | CRÍTICA

Cadu Costa

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12 de setembro de 2019

São tempos sombrios os de hoje. No Brasil e no mundo. Tempos de tentativas de censura em livros, de cortes na educação, de apologia a torturas, de extermínio de diversidades e de exclusão de direitos. Por sorte, temos o cinema e sua função social de entreter e informar. De dizer “Olha, isso não vai dar certo. Já aconteceu antes e tudo que veio depois disso foi errado. Querem ver como? Olha aqui.”

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O Massacre de Peterloo

Esse é o sentimento para falarmos sobre Peterloo, o novo filme do diretor britânico Mike Leigh (Mr. Turner, 2014) sobre um fato ocorrido em 1819, onde uma manifestação pacífica em Manchester a favor da reforma parlamentar foi transformada em um massacre.

Em tempos de BREXIT, é inegável a importância histórica que o Massacre de Peterloo teve para a Inglaterra. Difícil até entender como uma história de caráter tão cinematográfico quanto esta ainda não havia ganhado as telonas. Sorte nossa que o cineasta corrige essa falha e o faz com maestria. O diretor do premiado “Segredos e Mentiras” (1996) parece deixar muito clara sua posição diante dos problemas enfrentados no Reino Unido hoje justamente ao revisitar um dos capítulos mais covardes de sua história.

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Força, coragem e, sobretudo, senso de propósito

Enfim, Leigh traz uma simplicidade esmagadora e severidade a este épico que começa com retórica e termina em violência. Há força, coragem e, acima de tudo, um senso de propósito. Ademais, há uma sensação de que a história que ele tem para contar é importante, real e que precisa ser ouvida agora. Aliás, Peterloo levanta discussões políticas que podem ser facilmente associadas às que ocorrem em 2019, 200 anos depois da chacina capitaneada por uma sociedade elitista prioritariamente branca que não está preocupada com as necessidades dos mais pobres e desempregados.

Tudo começa com imagens da Batalha de Waterloo, onde acompanhamos um jovem soldado traumatizado com a morte à sua frente. Ao voltar pra casa, vemos as angústias socioeconômicas e políticas de uma enorme massa de gente. Famílias famintas e sem emprego mas ainda sim solidárias e em busca de um único desejo: uma sociedade mais igualitária em direitos e deveres. Apesar de seu elenco imenso, Peterloo não possui um protagonista definido, preferindo dar voz à milhares dentro da multidão e além.

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Coletivo como prioridade

Essa ausência de personagens individuais como os pontos focais da narrativa representa uma forma pela qual os ideais políticos de Leigh se manifestam na sua elaboração do drama humano. A prioridade, neste caso, é o coletivo e não a glória ou tragédia de uma só pessoa. Diferenças de classe e gênero, de privilégio e educação são evidenciadas diretamente para desgosto dos descrentes de que isso existiu e ainda existe.

Em suma, Peterloo é um filme longo e a maior parte do seu tempo é dedicado a diálogos e discursos escritos de forma a reproduzir as várias maneiras de oratória existentes na Inglaterra da época. À certa altura, até os personagens se manifestam contra o palavreado elaborado daqueles que discursam. Isso reflete como até as melhores intenções ativistas podem ser fragilizadas por falta de empatia linguística. Mais tarde, entretanto, quando o massacre começa a surgir no horizonte, o foco se transforma e, dispensando-se dos discursos elaborados que compõem a primeira hora, acaba por sugerir algo semelhante a um thriller histórico. Sabemos que o horror da covardia vai nos chocar, mas somos obrigados a ver o modo como todos os fatores para a barbárie se reúnem. O resultado é, de fato, emocionante, comovente e revoltante.

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Tributo direto e emocional aos reformadores do passado

Por fim, sempre exigente, muitas vezes didático e empolgante, Peterloo recompensa ricamente o público que lhe dá toda a atenção. Detalhando os eventos que antecederam o dia do massacre, este filme magnificamente se torna um tributo direto e emocional aos reformadores do passado. Dentre eles, até mesmo um tal de Jesus Cristo. A saber, o filme estreia nesta quinta, 12 de setembro.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Peterloo
Direção: Mike Leigh
Elenco: Rory Kinnear, Maxine Peake, Paul Bown, Michael Culkin
Distribuição: Diamond Films
Data de estreia: qui, 12/09/2019
País: Reino Unido
Duração: 154 minutos
Gênero: Drama
Ano de produção: 2018
Classificação: 14 anos

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
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