RESENHA | ‘O Sol Desvelado’ aprofunda a relação homem-máquina

Adolfo Molina

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13 de julho de 2016

Neste livro, acompanhamos o detetive Elijah Baley na investigação de mais um assassinato. Desta vez, o crime aconteceu em outro planeta, Solaria, um mundo curioso onde vivem apenas 20 mil humanos. No primeiro volume, fomos apresentados a uma Terra contrária ao ideal robótico, onde revoltas populares tentam impedir as máquinas de roubar o emprego dos humanos. Solaria é o contrário: com cerca de 10 mil robôs para cada habitante, os habitantes estão muito acostumados a deixar todas as ações e tarefas para os robôs. A fobia dos solarianos é outra: eles temem a presença física de outras pessoas. devido às infecções e doenças. Isolados em suas casas, conversam apenas por conexões holográficas e, a não ser pelo desagradável momento da reprodução, jamais permitem que outro humano os visite.

A estrutura dessa sociedade, bastante parecida com a de Admirável mundo novo (a criação das crianças é feita pelo mesmo estabelecimento que cuida de seu planejamento genético), é muito bem explicada ao longo da trama – desde a economia até os tabus. Assim como o leitor, Baley não tem qualquer informação prévia sobre Solaria, e vai descobrindo os fatos e encaixando as peças ao mesmo tempo que procede com a investigação, acompanhado mais uma vez de seu parceiro R. Daneel Olivaw.

Aliás, o personagem de Daneel não ganha tanto destaque neste livro. Depois de suas peculiaridades serem tão esmiuçadas em As cavernas de aço, ele deixou de ser novidade e agora não rouba tanto a cena (o que é uma pena, porque eu o adoro!). Aqui, Asimov aproveita o personagem para começar a questionar as diferenças entre robôs e humanos – Baley sente uma forte amizade pelo parceiro, e precisa lembrar a si mesmo que Daneel não passa de um robô.

Embora a investigação seja simples (basta conversar com umas cinco pessoas para Baley juntar pistas e encontrar o culpado), é muito bem amarrada, dinâmica e imersiva – Asimov prende nossa atenção até a última página. É uma história inteligente e bem construída, apesar da pouca interação com novos personagens.

Junto com a investigação policial, Asimov trata de outros temas que nos ajudam a entender melhor o universo que ele criou. Um deles é a agorafobia de Baley e de todos os terráqueos, que nessa história estão acostumados à vida em cidades gigantescas inseridas em grandes áreas cercadas por cúpulas metálicas que não lhes permitem ver o céu.

Outro tema interessante é a sociologia desse universo, com muitos planetas habitados e com robôs inseridos e disseminados na sociedade. Algumas das análises feitas pelo próprio Baley e por um sociólogo com quem o investigador conversa nos mostram as peculiaridades desse estudo dentro da série, e já apontam para o surgimento da psico-história, tema da trilogia da Fundação, que é cronologicamente posterior. É muito legal perceber como o autor é bom em amarrar suas tramas não apenas dentro dos livros, como entre uma série e outra.

FICHA TÉCNICA

Livro: O Sol Desvelado
Autor: Isaac Asimov
Editora: Aleph
Páginas: 286
Tradução: Aline Storto Pereira
Revisão: Hebe Ester Lucas, Maria Silva Mourão Netto

Adolfo Molina

Jornalista hiperativo, estranho e que ama falar e escrever. Sou o que sempre busco ser. Comunicar e mudar as pessoas. Levar o bem através de tudo que amo!
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