REVIEW | ‘Cuphead’ é fantástico, perfeito, divertido e mais difícil do que se imagina

Leandro Stenlånd

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29 de setembro de 2017

Há exatos dois anos atrás fomos à Brasil Game Show 2015, onde tivemos nossa primeira experiência com Cuphead. Era um jogo que inicialmente seria somente de embate contra Boss, mas ai de pouquinho em pouquinho a MHDR mostrou à Microsoft que o jogo poderia trilhar um outro caminho e foi bem isso que aconteceu.

Cuphead é aquele jogo que chama a atenção por conta de seu visual distinto. Sua estética replica animações antigas, das décadas de 1930 e 1940, de maneira criativa a charmosa, com uma trilha sonora encantadora reinserindo aos amantes de uma boa música, um Jazz perfeito daquela época também. O jogo entrou numa espécie de vácuo onde o studio MDHR entrou em silêncio e pouco ouvimos mais sobre o título desde então.

Não é de hoje que jogos indies tem feito a cabeça da galera, fazendo-os esquecerem um bocado daquela sequência infindável de jogos altamente 3D com gráficos de uma geração atual. Ori and The Blind Forest assim como Sundered são a prova viva de que quantidade gráfica não é qualidade, e coisa que ambos possuem e muito é qualidade, em especial Ori.

O jogo acabou reaparecendo na E3 do ano passado com uma mudança drástica. Se a lógica do game era seguir a linha Titan Souls, no qual era luta somente contra Boss, é ai que tudo mudou. Agora, o jogo além disso, possi uma das mecânicas de plataforma mais sensacionais de todos os tempos. A dificuldade do jogo é extrema e apesar de ter um apelo delicado para com as animações, você vai morrer muito mais do que em Dark Souls. As fases são bem ao estilo arcade plataforma mais tradicional, com alguns elementos que parecem fazer referência direta a outros títulos do gênero, como Contra, Gunstar Heroes e Mega Man. É preciso mais uma vez retificar que, as mortes são iminentes nesse game e você vai perder muitas vidas para descobrir como eliminar um chefão. Vou nem falar quantas vezes fui eliminado antes de matar um boss, pois será vergonhoso para minha pessoa.

ASSISTA AO NOSSO VÍDEO SOBRE OS CONCEITOS E DIREÇÃO DE ARTE DE CUPHEAD:

Cuphead é bem simples de ser entendido e até mesmo em sua mecânica. Funcionando mais como uma espécie de Super Contra, sua dificuldade é realmente extrema e até mesmo contra os boss que não tem somente um funcionamento de ataque. Ficamos surpresos inclusive com a quantidade de chefes num mapa bem grandinho. O título é praticamente 80% contra boss e 20% plataforma. Cuphead ainda é sobre isso, e o pouco de fases plataformas que há no jogo são apenas para coletar algumas moedas escondidas e perdidas nos mapas para assim poder comprar melhorias na loja do porquinho. Nem todos os locais do mapa são fases plataforma, o que faz com que Cuphead não seja tão extenso assim, visto que é muito mais rápido matar um boss e até mesmo fácil do que atravessar um campo em modo plataforma. Há somente dois modos no jogo, sendo que um permite que apenas duas pessoas joguem, mas limitado ao modo multiplayer offline, ou seja, não há modo online, o que é um ponto negativo para um jogo tão aguardado e que levou muito tempo a ser lançado. Particularmente sou um jogador meio que solitário e dificilmente alguém vem aqui em casa jogar algo comigo, mas tudo bem. Mesmo jogando em dupla, as lutas são bem complicadas, aliasainda mais com 2 players. Ao tentar jogar sozinho a quantidade de tiros e inimigos na tela reduz, visto que a dificuldade precisa ser um bocadinho menor, entretanto é ao jogar em cooperativo que o jogo se torna tão engraçado quanto ter 4 players jogando Super Mario Wii ou Rayman Legends. Mesmo depois de tanta espera, engana-se se acha que o jogo deixou de ser boss fight.

A trama é interessante e simploria, onde nosso protagonista Cuphead fez um trato com o diabo no qual ele tem que pagar esse trato com ele de forma que consiga coletar contratos com outros que estão devendo esse demônio. As lutas acontecem justamente pelo fato de ninguém querer pagar tais dívidas e ai acontecem os embates. Como todo bom devedor, ninguém quer pagar suas dívidas e essas famosas batalhas de boss é que lhe contemplarão (ou não) os tais contratos que tanto o diabo quer. fazendo com que justamente sua trajetória seja como o pão que o diabo amassou.

Certamente o primeiro aspecto que, literalmente agradará os fãs do gênero, é que Cuphead consegue ser ainda mais bonito ao vivo. Enquanto tínhamos contato somente com gameplays provindos do youtube, é aquele contato imediato em sua tela que mostra como o jogo tem seu charme. É impressionante e mágico vermos os personagens pulando, chorando, tomando Knock Out em um desenho animado interativo, superando até mesmo Ori and the Blind Forest (visualmente falando) e Rayman Legends (No quesito animação e paródias).

As animações desenhadas à mão são magnificas, dando total ambientação aos clássicos desenhos de anos atrás (década de 30) e que em muitos momentos lembraram até desenhos como Super Mouse, Gênio Maluco, Gato Felix e Heckle and Jeckle que em sua maioria não pertencem à mesma década das animações que influenciaram no desenvolvimento do jogo. Os movimentos que havíamos visto nos trailers de divulgação durante as cutscenes lembravam tudo o que é possível ver com Betty Boop, Popeye e todo o contorno dos desenhos produzidos pelo estúdio.

Não passa pela nossa mente como deve ter sido difícil animar todos os elementos de um jogo no estilo de desenhos animados dos anos 30, mas o resultado é digno de todo o suor de seus desenvolvedores. Da forma como os personagens se movem quando estão parados até as expressões faciais que eles fazem quando estão atacando ou recebendo dano, tudo parece ter saído do começo do século passado, mas em alta definição e com cores brilhantes.

Todos os chefes que existem no jogo são fenomenais. Alguns maiores outros menores. A Rainha Abelha por exemplo é um boss simples, mas que para derrotá-la se faz necessário subir em plataformas até que consiga derrotá-la sem cair lá embaixo. É nesse momento que a mecânica deixa de ser side-scrolling para ser algo mais plataforma-vertical. O jogo flerta com diversos elementos e brinca muito com paródias até mesmo quando esses chefes são eliminados (A Knock Out), e ai fica mais engraçado ainda com a animação desses personagens que são muito caricatos e ao mesmo tempo envolventes. Já o boss palhaço, é justamente algo sensacional e um dos meus prediletos. Durante a fase plataforma, temos contato direto com coisas alucinantes, remetendo a momentos de diversão como no arcade dos Simpsons, cuja primeira fase tem como chefe é um balão enorme. A inserção de inúmeros chefes no jogo com suas caricaturas e moldes fazem desta experiência única, mostrando de forma sensacional o real cerne do título. O pirata, capitão de um navio por exemplo, é uma influência óbvia do vilão Brutus da animação do Popeye. Foi interessante perceber que os chefes possuem padrões completamente diferentes de ataques, forçando o jogador a pensar em formas diferentes de atacá-lo. Esse pirata mencionado está em um navio suspenso, então só é possível acertá-lo atirando na diagonal ou usando o segundo disparo.

Conforme a sua exploração progride, você certamente vai encontrando novos níveis e até mesmo poderes ocultos que no início não era possível utilizá-los. Não há como sair de uma batalha de boss, ou seja, ao entrar numa, tenha certeza de o nível de dificuldade escolhido, pois ele será muito decisivo. É nesse momento que há uma certa sensação gratificante que tornou-se a base para um gênero inteiro de games, de Battletoads vs Double Dragon à Contra quando quesito é extrema dificuldade em games do gênero.

Cuphead sem sombra de dúvidas foi desenvolvido tanto para os fãs de longa data, como para quem está chegando agora aos games de plataforma (seja uma criança ou um adulto), visto que a tendência do título é utilizar de nostalgia para envolver muita gente. Também é uma homenagem para músicos do passado assim como cartunistas consagrados, afinal o jogo não teria graça se não usasse essa temática retrô e burtesca. É nessa hora que alguns desenhos acabam vindo à mente bem nos padrões Fievel Um Sonho Americano, fazendo de Mugman e Cuphead os novos ícones da atual juventude.

A animação dos personagens durante todo o gameplay mostra o quanto mesmo que estejamos contra um inimigo, você ao invés de sentir raiva por ele ser complexo, irá dar gargalhadas pelas numerosas formas que eles tomam. Desde 2015 que queríamos por as mãos nessa obra prima, pois assim que vimos pela primeira vez rodando na BGS, ficamos completamente apaixonados pela forma que a MDHR deu vida aos personagens e suas fantasias. E quando você perde uma missão, é impagável ver a frustração do jogador, afinal não há como não xingar muito quando morriemos em alguns chefes que parecem muito simples de vencer, só que não queridinho. Cuphead vai muito além de um simples plataforma, se fazendo necessária uma certa estratégia para conseguir avançar fases, mesmo que certas animações mostrem como é hilário ter contato com esse jogo.

O mapa do jogo é outra grande influência de um dos maiores clássicos dos consoles de todos os tempos: Super Mario World para Super Nintendo. Fica nítida a semelhança, apesar de Cuphead e Mugman caminharem meio que cambaleando no mapa sem uma direção exata, mas ainda sim é possível comparar.

Se tudo vai bem em todos os setores mencionados, na trilha sonora o título é ainda melhor. A equipe do estúdio optou por trazer à vida, não somente personagens com características icônicas, mas também uma trilha impecável entre o Jazz, o Mambo e o Samba. A inclusão de 43 músicos, incluindo 13 de uma orquestra com numerosos solistas faz do áudio de Cuphead, um masterpiece. Toda a orquestração foi composta por Kris Maddington com influências diretas de Duke Ellington, Cab Calloway e Gene Krupa, fazendo com pelo menos 90% de todo o áudio contido no jogo tenha como influência o Jazz.

VEREDITO

CUPHEAD será lembrado certamente por duas coisas: Sua dificuldade extrema tornando-o uma espécie de Dark Souls Plataforma 2D arcade e ao mesmo tempo suas músicas esplendorosas. Com um nível imenso de dificuldade, temos ai aquele jogo que te tirará do sério de tão complexo e que, certamente, fará com que morra mais do que imagina. Assim, temos o retorno aos pixels como na era 16-bit, deixando claro que o game foi feito para a atual geração rodando lisamente em 60FPS. O trabalho é totalmente primoroso com um excelente trabalho na forma de pixels que pouco se vê atualmente.

TRAILER

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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